Nesse mês de janeiro de 2021 tive a oportunidade de conhecer o restaurante A Casa do Porco. Comandado pelo chef e proprietário Jefferson Rueda, o restaurante não poderia estar vivenciando a sua melhor fase. Na última edição do Latin America’s 50 Best Restaurants, A Casa do Porco foi eleita o melhor restaurante do Brasil e o 4º da América Latina (subindo duas posições no ranking em comparação com 2019, quando o restaurante foi eleito o 6º melhor restaurante da América Latina).
O The World’s 50 Best Restaurants, uma premiação de suma importância para os restaurantes, é uma lista que classifica os melhores restaurantes do mundo e é atualmente patrocinado pela San Pellegrino. O júri é composto por cerca de 1040 experts da área gastronômica, além de jornalistas. O evento de premiação tem duração de 3 dias e reúne chefs de todas as partes do mundo.
Antes de falar mais sobre a minha experiência na Casa do Porco, é necessário entender um pouco mais sobre a vida do chef Jefferson Rueda e os caminhos que o levaram a tamanho reconhecimento. Jefferson Rueda nasceu no interior de SP, em São José do Rio Pardo, e cresceu embrenhado de toda essa cultura da “roça”, como ele mesmo costuma dizer. E foi lá que deu os seus primeiros passos dentro do mundo da cozinha com a convivência com suas avós italianas e quando trabalhou como açougueiro por 2 anos, experiência que o ensinou a reconhecer todas as partes da carne bovina e suína.
Após se formar chef no primeiro curso de gastronomia do Senac, Jefferson Rueda resolveu ganhar o mundo e mudou-se para São Paulo aos 17 anos, onde trabalhou em restaurantes conceituados na cidade, como Madeleine, Parigi e Pomodori. Em 2008 abriu o Bar Dona Onça com sua esposa Janaina Rueda e, de 2011 a 2015, esteve à frente do restaurante italiano Attimo.
Ao completar 20 anos de carreira, Jefferson resolveu dar mais um passo e em 2015 abriu a Casa do Porco no centro da cidade de São Paulo. A aposta era arriscada, trabalhar somente com uma única proteína: o porco. Com um menu na época a 98 reais, o restaurante ganhou notoriedade e promoveu um fluxo de pessoas da Paulista para o centro, o que deixou o chef muito contente.
Um dos objetivos de Jefferson Rueda enfim tinha sido alcançado: levar uma culinária de ponta de forma democrática através de preços acessíveis, a alta gastronomia inspirada no popular. Atualmente o menu degustação custa 139 reais e o porco é 100% aproveitado, dele nada é dispensado ou desperdiçado. Há ainda as opções à la carte, com sanduiches, linguiças, saladas e até massas.
Uma das criações do chef e estrela da casa, o Porco à Sanzé é desossado, posteriormente fica numa marinada por 1 dia e depois assado lentamente na churrasqueira por 6 a 8 horas e acompanha tutu de feijão, tartar de banana, couve e farofa de cebola. O Porco à Sanzé não é carro-chefe da casa à toa, é o equilíbrio perfeito da camada crocante por fora e da carne tenra por dentro.
No menu degustação podemos encontrar o porco em diversas versões, como tartar de porco, sushi de papada, codeguim (linguiça gelatinosa feita com a pele do porco e a sua carne) e a clássica pancetta servida com uma camada de goiabada picante. O churrasco de porco tem bochecha, linguiça e copa lombo, todos com o sabor de defumado bem presente. A apresentação dos pratos também enche os olhos e nos deixa boquiabertos com tanta criatividade.
Tudo é feito na casa: os pães, os embutidos, as linguiças, massas, molhos e não levam quaisquer conservantes ou aditivos químicos. Os porcos consumidos no restaurante são criados por eles próprios em uma fazenda particular. A alimentação dos porcos é a base de vegetais e soro do leite, além de serem criados soltos e com todo cuidado necessário.
Elevar a cozinha caipira é um grande feito por parte do chef Jefferson Rueda, mas engana-se quem pensa que ele parou por aí. Além de ter outros 3 negócios em sociedade com sua esposa e chef Janaina Rueda (Bar Dona Onça, Hot Pork e Sorveteria do Centro), ele pretende abrir uma mercearia para vender os produtos da casa para os clientes – projeto que foi adiado por causa da pandemia.
A importância do papel social do Jefferson Rueda, a genialidade e simplicidade nos inspira e nos faz acreditar que podemos esperar mais coisas boas do cenário gastronômico nacional.