As três últimas décadas do século passado foram marcadas por um subgênero do horror de prender o fôlego. Um assassino em série perseguia e matava as suas vítimas de modo extremamente violento, restando, normalmente, ao final, uma única sobrevivente do sexo feminino, a qual, por vezes, acabava matando o vilão. Já ele, nos segundos finais, geralmente ressurge das cinzas para sinalizar uma sequência.
O subgênero se chama Slasher.
Vários são os exemplos, como o marcante e por muitos considerado o precursor, “O Massacre da Serra Elétrica”, dirigido pelo norte-americano Tobe Hooper (1943-2017) em 1974. Alguns filmes, até mesmo, transformaram-se em franquias, casos de Halloween, Sexta-Feira 13 e A Hora do Pesadelo, com os vilões Michael Myers, Jason Voorhees e Freddy Krueger, respectivamente.
As obras, normalmente, não têm requinte técnico e chamam atenção exclusivamente pelos banhos de sangue, gritos, desespero, agonia, violência gratuita e outras diversas desgraças alheias. É o psicopata, com seu instrumento de matança, aniquilando, uma a uma, as vítimas jovens que aparecem em sua frente.
Há, contudo, algumas exceções. A despeito da premissa aparentemente repetitiva, os agentes de algumas obras desse subgênero do horror, com seus talentos, acabaram criando um produto rebuscado, criativo e digno de ser cultuado pela qualidade e não pelos defeitos – caso dos filmes Trash.
Trago, como paradigma de um Slasher rebuscado, o terceiro filme da franquia “A Hora do Pesadelo” (1984-1994), estrelada pelo antagonista Freddy Krueger – criação do saudoso cineasta Wes Craven (1939-2015).
Como muitos sabem, a franquia conta a história de um assassino de crianças que acabou sendo queimado vivo pelos pais das vítimas, sedentos por vingança. Mesmo depois de morto, Freddy continua a atormentar os jovens da Rua Elm, perseguindo-os no mundo dos sonhos com o poder de causar ferimentos reais nos pesadelos, perpetuando, assim, a matança em série de outrora.
Eis, de forma extremamente resumida (e sem spoilers), do que se trata “A Hora do Pesadelo 3 – Os Guerreiros dos Sonhos” (1987): a história se passa em um hospital psiquiátrico e mostra o drama de alguns adolescentes que foram direcionados ao nosocômio após serem considerados insanos diante de seus relatos de perseguição pelo vilão das lâminas de aço. Não acreditaram na veracidade do tormento vivido por eles. Só que os jovens descobriram uma forma de enfrentar, paritariamente, o demônio dos pesadelos.
Mas o que distingue essa terceira obra da franquia das demais? Os detalhes, caros leitores. Vejamo-los.
O roteiro é um deles. A criatividade (sim, o roteiro é extremamente envolvente) tem os dedos do Wes Craven (criador do Krueger) e do Frank Darabont, talentoso cineasta norte-americano responsável pelos roteiros de filmes como “A Mosca II” (1989) e do maravilhoso “Frankenstein de Mary Shelley” (1994). Darabont, que também é diretor, realizou os extraordinários “Um Sonho de Liberdade” (1994) e “À Espera de Um Milagre” (1999), ambos baseados em livros de Stephen King, e que lhe renderam 3 indicações ao Oscar.
A trilha sonora instrumental é do talentoso Angelo Badalamenti, responsável pelas músicas dos seguintes filmes dirigidos por David Lynch: “Veludo Azul” (1986), “Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer” (1992), “Estrada Perdida” (1997), “Uma História Real” (1999) e “Cidade dos Sonhos” (2001).
O elenco é coeso e convincente, contando com a protagonista Patricia Arquette, vencedora do Oscar em 2015 por seu trabalho em “Boyhood” (2014); o coadjuvante Laurence Fishburne, indicado ao Oscar em 1994 ao encarnar o Ike, ex-marido da Rainha do Rock no filme “Tina” (1993) e famoso por interpretar o Morpheus da trilogia “Matrix” (1999-2003); Robert Englund, como o Freddy; Heather Langenkamp, protagonista do primeiro filme da franquia, retornando para um acerto de contas; e Zsa Zsa Gabor, estrela do cinema nas décadas de cinquenta e sessenta em uma especial aparição.
A direção é do versátil Chuck Russell, o mesmo diretor da comédia “O Máskara” (1994) com o Jim Carrey, do eletrizante filme de ação “Queima de Arquivo” (1996) com o Arnold Schwarzenegger e do suspense “Filha da Luz” (2000) com a Kim Basinger.
Depois dessas referências (roteiro, trilha sonora, elenco e direção), ficou curioso para conferir? Veja, vale a pena! Caso já tenha visto há muito tempo, que tal rever ciente dessas informações? Você não vai se arrepender.