As Tecnologias Digitais estão profundamente presentes em nossas realidades. Elas são, de fato, partes constitutivas de nossas existências contemporâneas, tornaram-se naturalizadas. Suas aplicações são ações corriqueiras em nosso cotidiano e demonizá-las pode significar uma desatualização ou mesmo uma recusa a uma solução de problemas. As mesmas também têm potencial para transformar a Educação em todo o mundo e ampliar, de forma significativa, as possibilidades de melhoria do processo de ensino aprendizagem, criando novos sentidos para a busca do conhecimento.
Temos, no entanto, um modelo de escola vigente desde o século XIX (com poucas alterações estruturais) que demonstra muitas dificuldades em receber, discutir, entender e aplicar essa ou qualquer outra forma de busca pelo conhecimento, que não seja a tradicional, no sistema de aula expositiva, quadro negro, giz (variando para o pincel), com o professor como figura central do processo, sem trabalhar e incentivar a autonomia do aluno enquanto co-autor do seu projeto de ensino e de seu projeto de vida.
O não entendimento e a resistência das escolas
Ainda que quase a totalidade dos alunos que frequenta esses ambientes de ensino estejam em um estágio de conhecimento tecnológico superior a da maioria dos professores, muitos deles, inclusive, nasceram nesse “novo mundo” e são chamados de nativos digitais, os estabelecimentos escolares funcionam, quase sempre, utilizando as tecnologias apenas como apêndice, ou um plus, e ainda não compreenderam a dinâmica de que elas são parte de uma forma de vida contemporânea de toda uma sociedade
Os sistemas de ensino atuais e, por consequências as escolas, principalmente as públicas, têm muitos problemas para introduzir as tecnologias digitais como metodologias ou ferramentas de ensino. Os motivos passam pelas questões estruturais/ financeiras como a falta de rede de internet para suportar as conexões da escola e as dos alunos, falta de materialidade funcional como computadores, a inacreditável inexistência de instalações elétricas e eletrônicas adequadas e, carência de pessoal capacitado para uso, aprendizado e ensino dos e nos equipamentos, dentre outros problemas.
O maior dos problemas, no entanto, encontra-se na aceitação de que as Tecnologias Digitais fazem parte da realidade dos alunos, dos professores (que utilizam o smartphone o tempo todo, inclusive para pesquisar) e, consequentemente, do processo educacional. Ao não aceitar a existência das mesmas, as escolas continuam com currículos e práticas pedagógicas obsoletas, que não contemplam a dinâmica das constantes mudanças ocorridas na sociedade.
Na outra ponta do processo, porém, temos alunos com muito acesso a todas essas tecnologias (salvo os casos, que não são poucos, de extrema desigualdade social e assim, falta de acesso a uma Educação de qualidade geral e não somente de Tecnologias Digitais), formando um grupo que apresenta, a cada dia, menos motivação e menor rendimento no ensino tradicional. No entanto, esses mesmos alunos mostram, cotidianamente, um conhecimento adquirido através de outras formas de pesquisa, movidos por uma curiosidade latente e própria da idade. É necessário pensar que as Tecnologias Digitais propiciam a pesquisa sem a necessidade dos bancos escolares. Blogs, portais e os milhões canais no Youtube abertos todos os dias nos provam essa situação.
Como introduzir as tecnologias nas escolas e as escolas nas tecnologias
Chegamos então, numa encruzilhada no processo educativo. Com tantos indicadores de desempenho escolar dos alunos apontando problemas no processo de ensino aprendizagem e as necessidades de mudanças para a busca por resultados, quais seriam as formas que as/os educadoras/ es dispõem para enfrentar o desafio de incluir as tecnologias digitais em seus planejamentos curriculares? A primeira delas, que deixei claro acima, é a urgente necessidade de que a escola e os professores reconheçam a presença e a importância dessas tecnologias no cotidiano de todos. Não é mais possível, nem mesmo admissível, que a escola continue negando essa realidade.
A partir desse reconhecimento, é necessário que a parte pedagógica e a gestão da escola sejam preparadas para o uso e o convívio dessas tecnologias em todos os campos do ambiente escolar. A partir de então, a escola deve partir para o trabalho com os alunos e a comunidade escolar numa situação de repensar o currículo escolar, partindo da situação real vivida naquele momento. Deve ser trabalhada com os alunos a autonomia no processo educativo, que deve ocorrer antes mesmo da introdução das tecnologias digitais. Através da autonomia é que teremos alunos e consequentemente uma sociedade informada, crítica e capaz de tomas decisões sem a tutela de governos. Com alunos autônomos podemos iniciar a introdução das Metodologias Ativas na Educação.
Estas podem começar pelo incentivo para a realização de pesquisas na internet com textos, imagens, visualização e produção de vídeos, infográficos, mapas mentais. Outra forma de trabalho, mais simples, pode ser o envio de conteúdo através de e-mails ou mesmo pelo aplicativo whatsapp. É possível criar uma rede colaborativa de informação e conhecimento, utilizando a ferramenta wiki para produção de conteúdo. Assim, terá início a aplicação das Metodologias de “Sala de Aula invertida” e também de “Ensino Híbrido”. A busca deve ser pelo envolvimento do aluno no processo de construção do conhecimento, ele não deve esperar e nem ser condicionado a receber esse conhecimento do professor.
Desta forma, educadores devem buscar conhecimento para enfrentar o desafio de considerar as tecnologias digitais em seus planejamentos curriculares. Um problema somente pode ser resolvido, após a aceitação de que ele existe. As tecnologias digitais devem ser pensadas e estudadas na escola e para a escola. Afinal, essa instituição de ensino está, obviamente, inserida nesse ambiente social. Da mesma maneira, a escola deve ser repensada, ressignificada. Ela não pode mais ser considerada como muros que a isolam da sociedade. Ela deve ser vista e preparada para ter a função de rede, somente desta forma ela fará sentido para os jovens que a frequentam.