As programações feitas para o cinema tem horário marcado de transmissão e local exato para que aconteçam, o que faz que seja excluída qualquer pessoa que não possa se encaixar nesse formato; de maneira diversa, o conteúdo produzido para televisão – ao vivo ou por demanda – permite ao consumidor maior controle. Comparando com o livro impresso, que uma vez publicado não apresenta possibilidade de extrapolação do conteúdo transmitido, o blog é muito mais livre, é um trabalho em curso, que pode ser alterado e estendido ao sabor das emoções do seu editor ou das demandas dos leitores.
O gaúcho Roberto Landell de Moura (1861 – 1928) – Patrono dos Radioamadores do Brasil e tardiamente reconhecido como um dos Heróis da Pátria em 2012 pela Lei Nº 12.614 – foi cientista, inventor e padre, além de criar e patentear o “Transmissor de Ondas”, “Telefone sem Fio” e “Telégrafo sem Fio”. Entretanto, sua carreira de inventor – paralelamente à sua trajetória clériga – foi marcada por percalços e desavenças que infelizmente ensejaram sua morte, empobrecido e no ostracismo.
Seus experimentos com ondas eletromagnéticas, no final do século XIX, ensejaram a primeira transmissão de voz humana por ondas de rádio. No mesmo período, nos Estados Unidos, Thomas Edison e Alexander Graham Bell alcançaram avanços na capacidade de gravar e reproduzir sons, com gramofones e discos de vinil – que dominaram a indústria fonográfica até a penúltima década do século seguinte.
O avanço da computação e, consequentemente, das mídias digitais, possibilitaram aumento qualiquantitativo tanto da indústria fonográfica, quanto das artes visuais – como o cinema e televisão. A era de ouro, em termos financeiros, desses mercados ocorreu até a medida em que essas tecnologias eram complexas o suficiente para que uma cadeia de produção tivesse ganhos de escala e as empresas participantes dela tivessem reserva de mercado para o desenvolvimento de suas atividades, e caras o suficiente para que o cidadão ordinário não pudesse criar, modificar e distribuir conteúdos da maneira que lhe fosse mais favorável.
Com a popularização da computação pessoal, essas empresas perderam tanto valor ao não ouvir seus consumidores e à nova forma de consumir que criaram – representada pelo o surgimento de programas cópia de arquivos ponto a ponto (peer to peer) e de serviços compartilhamento de arquivos na nuvem – que perderam a oportunidade de migrarem de um serviço ilegítimo centralizado de multiplicação de arquivos não licenciados (Napster) para um serviço legítimo de distribuição de conteúdo – só ganhou força no século XXI. O que aconteceu quando conseguiram inviabilizar serviços como o Napster foi que a quantidade de indivíduos criando alternativas para manter a distribuição de conteúdo sem custo multiplicou-se em milhares de outros programas, muito mais difíceis de controlar e com a base de usuários descentralizadas – Kazaa, LimeWire, Emule etc.
Somente na quarta década posterior ao desmantelamento da indústria fonográfica e cinematográfica que alternativas mais passíveis de controle foram produzidas, no âmbito da música os grandes expoentes são iTunes, Pandora, Rdio, Google Play Music, Spotify; e no do vídeo por demanda são Netflix, Hulu, Youtube, Crackle e tardiamente seguidos pelas operadoras de TV por assinatura. Alternativas intermediárias, como o envio de mídias (DVD e Bluray) ao endereço físico dos consumidores – como Blockbuster, Netmovies, Pipoca Online – não conseguiram permanecer no mercado por causa dos custos logísticos gerados pela operação do serviço.
A grande vantagem da música e do conteúdo de vídeo existente atualmente é, primeiramente, o avanço da capacidade de armazenamento e processamento de conteúdo digital e, em segundo lugar, a propagação da internet em sua variedade de aspectos – crescimento do número de usuários, aumento da banda e da velocidade de conexão, ampliação da rede para áreas que não são tradicionais produtores de tecnologia. Essa vantagem é possibilitada pelos avanços feito nos estudos do espectro eletromagnético, da radiofrequência, da computação e dos telefones celulares.
O espectro eletromagnético pode ser dividido em ondas de rádio, microondas, luz visível, radiação infravermelha, radiação ultravioleta, raio X e raios gama, contudo a percepção humana é capaz de captar apenas dois dos níveis de frequência desse espectro – som e luz. O cálculo da oscilação nas fases dos campos elétrico e magnéticos, que são propagados individualmente por ondas transversais e perpendicularmente simétricas, permite a medição da radiação eletromagnética, que, uma vez controlada, pode servir para transmitir informações através desse canal e, consequentemente, interpretada para a percepção auditiva ou visual do ser humano.
A propagação radiofônica permitiu o avanço da telegrafia comercial – transmissão apenas de dados de um ponto a outro através das “ondas hertzianas” -, em que mecanismos recebiam, interpretavam e transmitiam ondas, que representavam mensagens de texto bem específicas. A primeira televisão foi criada no final de 1930 e suas cores apareceram apenas duas décadas depois, contudo, em ambos os casos, a transmissão era feita dentro do espectro eletromagnético, contudo em frequências diferentes.
O aumento do entendimento sobre o eletromagnetismo permitiu grandes avanços na computação, que interpreta esses impulsos em estados lógicos ou níveis aritméticos, representados por dígitos, ou seja, dois níveis de tensão: 1 ou 0, sim e não, falso e verdadeiro. Sinais digitais são, portanto, representações de determinados instantes de frequências de valores – ignoram-se os ruídos (ocorrências intermediárias), o que permite os sinais digitais serem mais nítidos que os analógicos – , que após de serem interpretados e decodificados em seus programas e suas mídias, apresentam significado relevante no mundo real.
Os aparelhos celulares comuns, funcionam como rádios, que recebem, comprimem e transmitem ondas eletromagnéticas que são decodificadas em sons para outros receptores – ler sobre o estado do 4G no Brasil. A capacidade de tirar fotos, gravar vídeos e conectar-se com a internet foi possível graças à digitalização dos sinais e ao avanço na tecnologia de transmissão de pacotes e comutação de circuitos – aproveitando-se dos avanços feitos tanto no estudo do eletromagnetismo e da computação digital.
A arte é o resultado de percepção, emoções e ideias expressadas por meio de manifestação estética, não utilitária – exceto para a Escola de Frankfurt -, em uma matéria, imagem ou som, com o objetivo de provocar reações no público. O cinema, como forma de arte, permite que ao longo da narrativa que descreve, sons e imagens trabalhem para passar determinada impressão aos espectadores, que, de acordo com sua com os padrões socioculturais que afronta ou concorda, pode causar reações que vão além da expressão artística.
As artes cinematográficas, pelo dinheiro investido por minuto de produto finalizado, tendem impactar mais que a televisão, contudo o desdobramento de suas atividades (merchandising, fóruns de discussão, incitação de mudanças sociais) são mais bem desenvolvidos quando se dá tempo ao seus consumidor para digerir e racionalizar o que lhe é apresentado. Nos últimos anos, a televisão tem feito um trabalho mais profundo nesse sentido, ao passo que apresenta a seus espectadores um trabalho em curso, que pode ser alterado de acordo com as reações que se pretendem imprimir ao público, e porque pode desdobrar os assuntos discutidos em aprofundações mais filosóficas.
A título de exemplo, podem ser comparados peças de vídeo para o cinema, alguns inspirados em livros, que pretendiam uma grande discussão filosófica ao seu público consumidor, mas que acabaram presos pelo próprio formato em que são apresentados – limitados pelo tempo e financiamento gasto para produzir uma sequência, pelos acordo de distribuição global, pelo época do ano de lançamento: 2001, uma odisseia no espaço; 1984; Matrix; Donnie Darko; Ensaio sobre a cegueira; Deus o diabo na Terra do Sol; Laranja Mecânica; Adivinhe Quem Vem para o Jantar; Fonte da Vida; Bicho de Sete Cabeças. De maneira diversa, series de TV puderam acompanhar a reação do público e interagir com ele, mesmo que indiretamente – como foi o caso de Breaking Bad, Game of Thrones, House of Cards, Homeland, Os Sopranos.
O desafio para se atingir a legitimidade na utilização de material protegido por direitos autorais e a viabilidade financeira de um modelo de negócios baseado na distribuição desse conteúdo, não depende mais dos meios técnicos, científicos ou informacionais, mas a formação de novas mentalidades, abertas às discussão com os usuários para a definição de suas prioridades respeitem a legalidade em detrimento da praticidade que lhe é oferecida pelos meios não tradicionais. Uma maneira de mitigar a lacuna existente entre o mercado estabelecido e a nova forma de consumir criada pela “geração millenial” é aumentar a comunicação entre esses âmbitos de interesse – seja por meio da interatividade em tempo real, seja por meio da abertura de novos foros de discussão.
Embora o Brasil ainda não seja um expoente de produção digital, é uma potência em termos de adoção e utilização das tecnologias mais recentes, sobretudo as que apresentam algum nível de relacionamento social. É por meio da educação e do sentimento de pertencimento – sentir-se ouvido pelos definidores de políticas públicas (governos e legisladores) e pelos definidores de mercado (gravadoras musicais e indústria cinematográfica) – que transformaremos “gafanhotos digitais” em cidadãos conscientes das suas responsabilidades e dos seus direitos em um mundo conectado, onde a diferença entre o real e o virtual é cada vez mais tênue.
Como expressão cultural, cada forma de arte tem o seu valor e compará-las de acordo com critérios meramente científicos não faz sentido, já que são externalizações de percepções subjetivas da realidade e materialização de sentimentos. Tampouco faz sentido uma análise maniqueísta em que se estabeleça um meio em detrimento do outro, sobretudo em uma época em que se vê a multiplicação de telas, dispositivos e maneiras de se consumir conteúdo.
A televisão está para o cinema assim como o blog está para o livro, porque, por causa do seu formato e da sua maneira de utilização, permite maior liberdade de escolha e adaptação às vontades do usuário. Embora materiais mais bem elaborados sejam transmitidos pelos primeiros, são nos segundos que há oportunidade para os assuntos serem esmiuçados e que real possibilidade de interatividade em tempo real.
Ver video a baixo. Atualizado em 31/01/2015.
Um Comentário
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Ingrid Jaonders
Não dá pra negar que serviços de streaming começaram uma mudança no conteúdo e no modelo de negócios das tradicionais TVs e Rádios.
Antonia Almeida Graça
Muuuuuito longo. Quase não quis terminar de ler. Mas é mesmo verdade, o conteúdo pra TV está cada dia mais bem produzido. #netflix #hbo
Silvio Rezende
Muito bom!
Wesley Cardoso
Na sua opinião, a televisão é ou não melhor que o cinema?
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