A indústria fonográfica foi impactada de maneira irrevogável no início dos anos 2000 pela ascensão da internet e dos serviços de compartilhamento de dados ponto-a-ponto (peer to peer) – como “os piratas da web” como Napster, Limewire, Emule e seus asseclas. A importância do lançamento de músicas individuais em detrimento dos álbuns se mostrou premente quando os serviços de streaming de música tomaram a relevância que outrora era de aparelhos portáteis como Walkman, Mp3 Player, Mp4 Player, MD Player, iPod etc.
A proliferação de serviços de streaming – como Spotify, Soundcloud, Deezer, Tidal – permitiu que o filtro (gate keeping) criado por grandes conglomerados como Universal, Sony e Warner Music Group fosse superado por músicos talentosos que foram capazes de cultivar uma relação mais próxima com o seu público por meio das redes sociais. Do Fotolog.com à criação do MySpace, o público foi amadurecendo e os pirateadores de conteúdo passaram a viabilizar maneiras mais interessantes de recompensar diretamente os artistas que apreciavam – seja por meio de divulgação gratuita, seja pelo pagamento direto aos criadores de conteúdo.
Nesse meio tempo, diante do público jovem, a relevância das rádios FM foi naufragando e premiações de música (Grammy’s, VMA, VMB) foram ficando cada vez mais à deriva e sem rumo. Seguindo a mesma maré, a credibilidade de críticos musicais e listas de popularidade (Billboard, Rolling Stone, As 7 Melhores da Jovem Pan) foram esmorecendo na medida em que o público, além de entender como funciona o jabá de origem não-proteica, passou a ter acesso maior e mais rápido que os próprios especialistas.
We was praisin’ Billboard, but we were young
Now I look at Billboard like, “Is you dumb?” – Jay- Z em What’s Free
Banda Yu
Foi nesse contexto que, em 23/03/23, foi parido o primogênito álbum Hyena da Band YU, um “disco digital” de conteúdo autoral com poder de impactar sua vida de hoje até o final. Ainda na maternidade do Youtube e respirando por aparelhos, o disco ainda está pingando de sangue, suor e lágrimas dos seus produtores que conseguiram levar a música autoral ao “bleeding edge” da inovação sensorial, destacando-o como o bote de salvação para quem busca música genuinamente original e transcendental.
Podemos atribuir tanto o lançamento na data prevista, quanto a ininterruptibilidade da experiência sonora, como também o sucesso do álbum à ausência do papagaio de pirata. Porque o estúdio de gravação era o que José Murilo de Carvalho consideraria uma “ilha de letrados em um mar de analfabetos” musicais ou, até mesmo, arquitetos de obra pronta esperando uma oportunidade para dar um pitaco não solicitado.
Ora, se em um restaurante com estrelas Michelin o Loro José não seria bem-vindo; em meio a uma tripulação imbuída de coragem e espírito aventureiro para desbravar as águas inexploradas da musicalidade contemporânea, o espaço dos caroneiros (free riders) fica reservado à masmorra ou ao papel de bobo da corte minutos antes de andar na prancha e virar comida de tubarão. #tchakabum
Todo mundo que já navegou, física ou emocionalmente, por mares turbulentos sabe o quanto o calado do navio é importante, por isso, no navio pirata – como diria o filósofo -, o palhaço calado é um poeta. Numa Listening Party (como no link abaixo), por falta de noção ou de saber o inglês, o bufão deveria saber que é pra ouvir e não pra ficar falando groselha.
Se você não teve a oportunidade de ver a “champagne sendo quebrada no casco” participando da Festa de Lançamento (listening party) do Hyena, você ainda pode apreciar essa viagem com a vantagem da visão retrospectiva para analisar o que está no palco e o que está em jogo: o futuro da música brasileira. Diante de recorrentes tsunamis de churume musical viabilizados pela inclusão digital, Yu tem a chance de – como fizeram os irrevogáveis inspiradores Daft Punk e Kanye West – virar referência na história da música mundial.
Ouvir o álbum é como navegar em águas plácidas em uma caravela cibernética, em que a destinação final não é a Ilha de Lixo do Pacíficio, mas o subconsciente da psique humana. Ao desviar dos lugares comuns e evitar águas tóxicas, os majuros da Banda Yu tiverem que contar com suas experiências prévias e muitas horas de dedicação.
Marco Machado e Daniel Batista – um com a barba na mandíbula e o outro com a barba na lambda – embarcaram em agosto de 2021 para fazer parte dessa intrépida tripulação. Produzindo ou tocando, o tom da personalidade do álbum primogênito teve timão conduzido na ponta dos dedos pelo pirata do humor Yuri Moraes.
Músicas do Álbum Hyena
Ouvir as músicas na ordem proposta pelo disco te leva a 20 mil léguas subpsíquicas e se você estiver acompanhado de uma boa conversa ou uma bela “marmita”, ao invés de adentrar às profundezas do oceano, você ascende ao cosmo onde a parada mais vicinal é Proxima Centauri.
São 16 músicas cantadas em inglês e tocadas em alguns sistema tonal extraterreno. Confira aqui:
- Chicago Boys
- All my loving
- Oh my loving
- Pleae turn off
- Trash Boy
- Pretty Bad Things
- Pontless bullshit forever
- Trouble every day
- Beef beef
- I wanna be a dor
- My
- Very best friend
- Bunny love
- Bunny law
- A little end
- 2323
Produtoras e diretores, elenco, todo o crew e amigos. Vocês são demais, mesmo. […] Espero muito que vocês gostem do trabalho que estamos compartilhando tanto quanto nós gostamos de fazer. – Yuri Moraes
Conclusão
O primeiro CD da banda Yu é um impávido colosso, que teve 3 musicistas (Yuri, Marco e Daniel) como as velas que capturaram os ventos criativos de diversos atores da indústria da música para criar harmonia e uma sonoridade consistente mas que nunca se ancorou na monotonia.
Foi muito tempo e dinheiro investido na cruzada idílica para encontrar a corrente marítima que os levou até o baú do tesouro. Talvez, se houvesse um quarto elemento – vulgo Sr. Siriqueijo dos Podcasts ou o Seu Madruga Brasileiro -, o nascituro álbum teria se tornado natimorto e teria que ser o mesmo destino do membro mais ilustre da família Laden.
Foram horas de composição, ensaio, gravação, masterização e, para ter certeza que todos os nós estavam ancorados no pontos certos, foi preciso sabedoria para buscar os artistas (desenhistas, fotógrafos, videógrafos, produtores musicais). O Yuri teve o #molejo de entender que sem a corda certa, a caçamba não se sustentaria.
Tudo se torna ainda mais interessante quando a gente mergulha na história da Hyena e vemos os vídeo-clipes das músicas com produção digna da sétima arte. Não poderia ser diferente, afinal de contas, Yuri era uma estrela (do mar) da MTV.
Essa nau psicodélica apenas acabou de zarpar e seus marujos sabem que, de um lado, não é mar calmo que faz um bom marinheiro, do outro, não é comendo caramujo que eles vão ter forças para preparar show e, quem sabe até, um segundo álbum. Por isso, compre o álbum, divulgue a seus amigos e ouça nos serviços de streaming.
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Site da Banda Yu
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Ouça no Spotify
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Ouça no Music Camp
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Instagram com novidades da Yu
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Youtube com os clipes do Hyena
Clique nos links acima e veja que o animal está vivo, nos palcos e nas plataformas de streaming de áudio.
Obrigado pra todo mundo que tá escutando, mandando mensagens e fazendo a coisa se espalhar de alguma maneira. Sou eternamente grato por esse momento. This is no test. Amém. – Yuri Moraes
Um Comentário
Anônimo
Muito pica
piupiu24
Álbum incrível, artistas incríveis, com várias pessoas super brabas junto no projeto. Escutem essa álbum que vale muito a pena.