“Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.”
– Antoine Lavoisier –
Um roteirista no cinema, para construir seu roteiro, acaba recorrendo a métodos que constroem seu padrão de escrita, um deles é o “clichê”, que vamos entender agora se ajuda ou atrapalha!
A fórmula clichê
Original do Francês, sendo escrito como cliché, tem no seu significado primário, a utilização de uma matriz feita de metal, destinada à fabricação de imagens e textos. Estes, vindo de conjuntos em repetição.
As artes tem inúmeros conteúdos já produzidos, e querendo ou não, muitos são inspirados em antecedentes. É como dizia o renomado cientista, Lavoisier: “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”.
O cinema incorporou esta frase com maestria, à medida que grandes nomes desenvolveram fórmulas sobre expressões avulsas, que até então, não tinham sido imaginadas em conexão. Um forte exemplo, é o advento das obras de Charlie Chaplin, reunindo elementos do teatro de variedades, mais especificamente as pantomimas (gestos corporais) à situações de enquadramento em câmera. A reunião feita por ele, juntamente à cineastas do início do século 20, serviu de espelho para estabelecer convenções na indústria do gênero nomeado, comédia pastelão. Esse modelo é replicado até os dias atuais.
Os clichês estão sempre relacionados com gêneros de comédia, ação, aventura, romance, drama, terror e suspense, cada tipo em seu segmento. Eles servem para criar o que chamamos de “identidade por reconhecimento”. Ela implica em fazer com que o espectador saiba o tipo de obra a qual está acompanhando. Essa identidade entra inicialmente no roteiro, quando para criar uma situação, o escritor busca algo cravado em memória para estabelecer uma relação mais íntima com quem assiste. Um grande exemplo é quando um casal briga em um filme de romance, passam um período distantes e no último ato, eles se reconciliam em local público, perante a imensa quantidade de pessoas que ficam de plateia os observando. Aposto que com esse exemplo, você deve ter lembrado de inúmeras obras que fazem exatamente isso.
Os clichês sempre geraram polêmica e divergências de opiniões para quem produz e recebe o conteúdo. A verdade é que a fórmula se torna um facilitador e se desvencilhar dela, é sinônimo de entrar em campo novo, assumindo riscos. Há realizadores que utilizam da fórmula por anos e dão super certo, como é o caso do Steven Spielberg, e há os que fogem da curva e também são bem sucedidos, como o Luis Buñuel.
Jogando com o clichê
O cinema contemporâneo passou por diversas adaptações e os públicos se diversificaram bastante. Com salto amplo no modo de fazer cinema, os roteiros foram entrando em harmonia com o fluxo recente.
Hoje, a gama de filmes que ironizam e questionam os clichês é enorme. A comédia tomou a liberdade de brincar com os roteiros clássicos. Títulos como “Todo mundo em Pânico” ganharam espaço e trouxeram de forma leve, todas as características e exageros de filmes de terror. Em seguida, o mercado viu o potencial nos filmes de suspense e terror que entraram na possibilidade de abordar temas atuais, sem fixar na ideia de construção estabelecida no século passado, fortalecendo gêneros com pegada de terror psicológico.
Interpretar e brincar com os clichês, se tornou um hábito na indústria cinematográfica. Passando por altos e baixos, o processo cinematográfico fixou marcas registradas, sendo uma delas o clichê. O ponto é que eles já estão inclusos em tópicos para fomentar roteiros. São recursos e podem ser inseridos no repertório de quem cria conteúdo. Se ajudam ou atrapalham, o que vai definir isso, é o que vem antes dos créditos finais.