A quebra de patentes de alguns itens da economia por um lado diminui os lucros das empresas, por outro, beneficia enormes contingentes populacionais. O Brasil foi pioneiro no licenciamento compulsório de fármacos relacionados ao tratamento dos portadores do HIV e seu legado, inicialmente criticado, foi replicado em muitos países.
Um dos fatores que define a tributação e, consequentemente, os preços dos produtos é a essencialidade dos bem para economia – relação da importância do item para o atendimento das necessidades individuais e coletivas básicas. Embora em ambos os casos os consumidores se beneficiem, 60% de desconto em um produto da indústria farmacêutica medicamento é mais essencial que o mesmo desconto para qualquer produto da indústria fonográfica.
O problema da produção e comercialização de produtos de origens marginais (pirataria), do lado do consumidor, é mais incentivado por uma necessidade de consumo ou por sentirem-se injustiçados do que pela expressa vontade de burlar a lei. Comprar um CD por R$ 38 para ouvir apenas duas músicas que você gosta não faz mais sentido em 2015.
A solução para vencer esse problema é oferecer um serviço melhor que o pirata, empoderar o usuário e estar atento às tendências de mercado. As indústrias fonográfica e cinematográfica por muito tempo tentaram resolver o problema por meio da perseguição dos efeito e não das causas.
Empresas como a Netflix entenderam isso e estão cada vez mais ganhando mercado: oferecendo um serviço de qualidade, com alcance global, a preços razoáveis em cada país e entendendo como funciona o comportamento deste novo mercado consumidor. Contudo, nesse terreno dinâmico, há sempre o que aprender e a adaptação dos modelos tradicionais à nova realidade nem sempre acontece de maneira pacífica.
Não adianta produzir o conteúdo e achar que ele virará arquivo morto depois de publicado. O público, que tantos lucros rendem às empresas, criará um vínculo emocional com esse conteúdo e tentará dar novos usos a ele.
Tentar fechar o Canal Nostalgia criou um backlash maior para as empresas detentoras dos direitos autorias do que gerou lucros para o Felipe Castanhari.
Os tempos mudaram. Os lucros extraordinários das distribuidoras internacionais de música e filme de outrora agora estão pulverizados na imensidão de produtores independentes e novos empreendedores.
Proibir judicialmente um fã de um programa de rádio de disponibilizar o conteúdo online gratuitamente para aqueles que não puderam ouvi-lo ao vivo e não substituí-lo por algo melhor ou igual é ruim para sua imagem.
Proibiram o Castanhari de relembrar o público dos vídeos que gostavam e, consequentemente, de auferir recursos com uma nova onda de consumismo. Não parece muito inteligente. Bloquear a conta de LedPanJP e demorar 3 dias para publicar os vídeos, não dedicar tempo á produção de thumbnails nem descrição. Não parece muito inteligente.
As empresas que seguem o modelo tradicional de negócios precisam entender que o mercado mudou e que o público atual é mais educado e mais exigente que no passado. Se quiserem existir nos próximos 10 ou 40 anos, precisam entender que a pirataria grassa onde a lacuna entre os anseios dos consumidores e a disponibilidade das empresas em oferecer produtos e serviços mais próximos ao máximo da capacidade de produção e de distribuição das empresas.
Os consumidores estão dispostos a abrir mão de informações pessoais, a assistir propagandas de empresas desconhecidas e a fazer propaganda gratuita das empresas que acreditam, desde que sejam condizentemente compensados por isso. É uma troca – um negócio -, onde cláusulas leoninas não serão somente rejeitadas, mas também serão combatidas com todas as forças, utilizando também social networking effects.
E ai? Concorda? Descorda? Deixe seu comentário!