A PANDEMIA do Covid-19 foi uma grande surpresa para todo mundo, paralisamos frente a um vírus, os sistemas de saúde colapsaram e muitos de nós ficamos em casa por algum tempo a para nos proteger e salvar vidas. É grande a ansiedade pela volta da “normalidade”, contudo, precisaremos planejá-la com muito cuidado, historicamente momentos como esse mudam formas de pensar e agir.
Em momentos de dificuldade, a superação precisa ser coletiva, e será assim que voltaremos a ensinar ciências, com responsabilidade e preparo prévio, iremos enfatizar na retomada do ano letivo de 2020 as competências socioemocionais dispostas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
Marcos Meier e Sandra Garcia (2007), pautados em Feuerstein, apontam alguns critérios de mediação, em consonância com ações apoiadas nas competências socioemocionais, que podem ser transpostos para a sala de aula, a saber:
- Intencionalidade e reciprocidade: o educador deve apresentar objetivos/metas claras e concretas (assim produzirá maior reciprocidade entre os alunos).
- Significado: o educador deve explicar o conceito (relacionado ao tema trabalhado na aula) e suas implicações com outros conceitos de modo claro e objetivo verificando se o aluno os compreendeu.
- Transcendência: o educador deve articular as aprendizagens de modo que transcendam o “aqui e agora”, favorecendo o aluno a pensar sobre as implicações do que está sendo “dito e feito”.
- Competência: o educador deve proporcionar que o aluno se sinta “capaz” de aprender, favorecendo sua motivação e autoestima. Ou seja, deve oportunizar situações em que o aluno obtenha sucesso. Para isso, as aulas, avaliações, linguagens etc. devem estar de acordo com o nível do aluno para o tema abordado. O feedbackao aluno é fundamental!
- Regulação e controle do comportamento: o educador deve apoiar o aluno a controlar/regular suas ações nas diferentes situações, incluindo as estressoras. Portanto, apoiar a discussão reflexiva, com o aluno e no grupo, é importante!
- Compartilhar: o educador deve manter e reforçar o clima escolar de respeito, ajuda mútua e valorizar a importância do controle das emoções, da comunicação clara e respeitosa, do balanceamento entre os objetivos/ metas pessoais e do grupo. Situações de debate, troca de ideias e afins são de fundamental importância!
- Individuação e diferenciação psicológica: o educador deve valorizar as diferenças, desenvolvendo a consciência e a singularidade de cada aluno – e como ela pode coabitar com o grupo e fortalecê-lo.
- Planejamento e busca por objetivos: o educador pode apoiar o aluno na identificação de suas metas (objetivas, claras e que respeitem os demais) e ajudá-lo no planejamento (concreto e com passos possíveis de serem realizados) para que essas metas sejam alcançadas. A conversa e as estratégias para análise (como antecipação por imagens mentais) são de suma importância.
- Procura pelo novo e pela complexidade: o educador deve propor situações desafiadoras e incentivar a sua resolução de modo respeitoso.
- Consciência da modificabilidade: o educador deve sempre buscar novos caminhos, recursos, estratégias etc., de forma a apoiar a todos os alunos (nunca desistir de um aluno quando a maioria já dominou um assunto, situação etc.).
- Sentimento de pertença: o educador deve apoiar o aluno a identificar as pessoas que se aproximam ou que se identificam com ele, em outras palavras, o educador deve auxiliar os alunos a se sentirem pertencentes a um grupo.
- Construção do vínculo: o educador deve buscar vincular-se aos alunos e vice-versa. O vínculo é fundamental para a ação em grupo!
A atual educação tradicional em ciências já não conseguia suprir a formação dos indivíduos em todos os âmbitos, sendo necessário para uma formação completa e eficaz, levar em consideração todos os aspectos que constroem o sujeito, dentre eles as necessidades sociais e emocionais, que é latente nesse momento em que estamos vivendo de distanciamento social.
As competências socioemocionais precisarão ser o centro do nosso currículo e guiar todo o processo de ensino aprendizagem, desde a apresentação do conceito até a avaliação da aprendizagem em Ciências. Sendo assim, nesse momento, cabem as perguntas:
- Quais as possibilidades e dificuldades de utilizar no processo de ensino aprendizagem um olhar mais voltado para as competências socioemocionais?
- Quais os conceitos científicos mais podem ser enfatizados para o desenvolvimento de competências socioemocionais?
- Como desenvolver mais autonomia no processo de ensino aprendizagem em ciências, desenvolvendo uma aprendizagem ativa de conceitos necessários para momentos de emergência?
Essas perguntas não serão facilmente respondidas se fizermos isso isoladamente, nossa reflexão coletiva nos apontará caminhos no reconhecimento das competências socioemocionais que devem se constituir em objeto de planejamento das aulas de Ciências, para que de fato possa vir a se constituir como parte do fazer docente.
MEIER, Marcos; GARCIA, Sandra. Mediação da aprendizagem: contribuições de Feuerstein e Vygotsky. Curitiba: Edição do Autor, 2007.