Muito se fala sobre consumo consciente, em diversas áreas. Não à toa, num mundo com recursos limitados e produção acelerada a questão torna-se relevante. No mercado de moda há uma série de discursos recorrentes, que parecem se apresentar como grandes verdades: “poliéster não é um material legal porque vem do petróleo, comprar em loja de menor produção é bacana, em grandes varejistas não, para ser sustentável tem que ser mais caro”. Mas será que essa estratégia de eleger mocinhos e vilões é realmente consciente?
No Índice de Transparência da Moda no Brasil de 2020, iniciativa do movimento Fashion Revolution, que pontuou 40 grandes marcas de acordo com a quantidade de informações disponíveis sobre suas práticas, políticas, impactos sociais e ambientais, foi uma fast-fashion popular, C&A, que atingiu maior pontuação, 74%, enquanto Brooksfield, Colcci e Fórum, que trabalham com preços mais elevados que a primeira, não pontuaram.
Comprar de pequenas marcas que demonstram de forma transparente em sua comunicação um cuidado com a escolha de matérias-primas, fornecedores e colaboradores é positivo, faz a economia local girar, estimula o desenvolvimento de pequenos empreendedores. Mas ao assumir que só (atenção para o só nessa frase) esse tipo de consumo é consciente, exclui-se uma série de consumidores que podem não ter acesso a elas, ou simplesmente não se identificam com seu design.
A questão ambiental é ainda mais complexa. As fibras naturais dependem de condições específicas para cultivo (vegetais) e criação (animais), envolvem inúmeros processos que impactam no valor de seus produtos finais, além de não darem conta de vestir toda a população mundial. Assim nasceram as sintéticas e artificiais, desenvolvidas quimicamente pelo ser humano. Mas, se fala-se que o poliéster (sintética) não é legal por vir do petróleo, a viscose (artificial, de origem na celulose) também traz problemáticas, sua produção convencional pode promover desmatamentos. E esse é só um exemplo.
Fato é que toda produção gera impacto, ambiental, social, econômico, seja a empresa grande ou pequena, o produto caro ou barato, seja qual for a matéria-prima utilizada. É por isso que comércios como brechós, que ofertam produtos já finalizados, aumentando sua vida útil, estão em ascensão. Consciente mesmo é repensar o consumo em si, começando pelo próprio. Aquela blusa nova fará diferença no seu guarda-roupa? Se concluir que sim, qual o melhor lugar, na sua realidade, para encontrá-la? O ótimo não pode ser inimigo do bom e o pensamento raso de mocinhos e vilões, ao invés de ampliar a visão e questionamentos, pode se transformar numa prisão.