Conceito:
Contracultura é o ato de questionar-se sobre a cultura do momento, em outras palavras, é o de contestar os padrões e regras, tanto políticas, religiosas, como sociais. É protestar e, até mesmo, rebelar-se, fazer o que for para haver mudanças coletivas, quase sempre promovendo a liberdade.
Onde surgiu (resumidamente)?
Com o fim da segunda guerra mundial, as pessoas não queriam reviver um conflito igual. Por isso, nos Estados Unidos, a Guerra do Vietnã, o seu alistamento obrigatório e as inúmeras mortes, geraram muita insatisfação. A partir disso, em 1968, o Central Park reuniu 60 mil pessoas pelo fim da guerra, motivador essencial para o início de uma onda de protestos ao redor do mundo. Além disso, no contexto da Guerra Fria, os Estados Unidos viviam os “anos de ouro”, um período de forte expansão econômica e capitalista e, os jovens, em grande parte, estavam insatisfeitos com a pressão consumista desse sistema. Como também, em abril de 1968, Martin Luther King foi assassinado. Tudo isso desencadeou inúmeros movimentos, sendo os protagonistas nos EUA, o movimento hippie, a favor da liberdade e da igualdade entre sexos, os panteras negras, que lutavam contra a política de segregação racial e o WoodstockFestival, um festival que se tornou um movimento por reunir cerca de 500 mil pessoas, com o intuito de propagar a liberdade de expressão e de promover a paz.
Recomendação de filme: O filme, Forrest Gump retrata alguns grandes ocorridos históricos nos EUA, é fácil situar a época na qual o filme se passa, nos anos 60 e 70, sendo uma ótima aula (mesmo que rápida e básica) para saber mais sobre alguns dos importantes presidentes, seus feitos e as características históricas da época. Dentre suas referências históricas estão as mais importantes: o grupo Ku Klux Klan, movimento hippie, os panteras negras, segregação racial no Alabama e a guerra no Vietnã.
E no Brasil?
Repressão militar na Praça da Sé. Foto: Evandro Teixeira.
Também, em contexto de Guerra Fria, o Brasil era fortemente influenciado pelo capitalismo estadunidense e pelo medo do comunismo, junto a crise do populismo e a instalação de um regime ditatorial. Entretanto, mesmo em meio a um estado social e político altamente repressor, os movimentos contracultura no Brasil ganharam força somente nos “Anos de Chumbo”, com o decreto do AI-5 (Ato Institucional nº 5), emitido em 1968, inaugura-se o período mais sombrio da ditadura:
O historiador Kenneth P. Serbin opina que, por meio do AI-5, as forças de segurança do governo tiveram carta branca para ampliar a campanha de perseguição e repressão contra a esquerda revolucionária, oposição democrática e Igreja.
Dentre os movimentos mais marcantes, estão, o velório de Edson Luís, menino de apenas dezesseis anos morto pelos militares, que reuniu cerca de 50 mil pessoas, como também, a passeata dos cem mil, na qual reuniu trabalhadores, políticos, artistas, professores, religiosos e estudantes decididos a questionar a repressão daqueles tempos.
SOUSA, Rainer Gonçalves. “O Brasil em 1968”; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiab/o-brasil-1968.htm.
Contracultura na música brasileira:
Com o início do regime militar, “os artistas se reorganizaram para lutar contra a opressão e fazer oposição, tendo na arte a arma mais pungente” (OLIVEIRA,2006, p.50). Na década de 1960, a canção brasileira se torna mais engajada, fazendo referência ao país onde se vivia, onde se queria viver e onde não se queria viver (QUEIROZ, 2004, p. 23).
Como expõe Waldenyr Caldas, a música popular brasileira ficou por conta do retorno da bossa nova, que falava apenas de temas suaves como o amor, a rosa, a flor, o barquinho, o mar, a praia, o sol e outros substantivos sem compromisso com a resistência política daquele momento. Nem poderia ser diferente. Não havia nenhuma chance de contestar o ‘establishment’. Apenas alguns poucos talentos como Milton Nascimento, o Som Imaginário e Elis Regina, entre outros, ainda conseguiam realizar alguns trabalhos isolados.
O Tropicalismo:
Caracterizado por ser um movimento libertário e revolucionário, buscava aproximar a música brasileira dos aspectos da cultura popular, do samba, do pop, do rock e da psicodelia.
Além disso, a bossa nova, o rock dos Beatles e de Roberto Carlos, foram influências fortes para a Tropicália. Nomes como, Os mutantes, Novos baianos, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Raul Seixas, Nara leão, João Gilberto, Gal Costa, entre outros, fizeram parte do grupo Tropicália. O movimento tropicalista tentava incorporar-se à sociedade por meio de elementos de identificação da cultura de massa. Sendo que ao tentar criar um movimento de massa, fugindo dos padrões, foram alvos de muita crítica e revolta. Entretanto, com o passar tempo, a tropicália acabou voltou-se contra seus ideais, apropriando-se da indústria cultural, que inicialmente tinha o objetivo de alcançar os brasileiros, para somente gerar consumo e lucro. No fim, mesmo com forte influência, publicidade e tendo conquistado um numeroso público, a repressão ditatorial fez com que o grupo acabasse, principalmente, pelo exílio de Caetano e Gilberto Gil.
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O Clube da esquina:
Em meio a opressão militar nas ruas, “Clube da Esquina” surge com a ideia de espaço na qual há possibilidade do encontro, do afeto e da utopia. Seus protagonistas centrais eram Milton Nascimento, irmãos Márcio Borges e Lô Borges.
A partir disso surgem ideais de brasilidade, modernidade e mineiridade contrários ao ufanista “ame-o ou deixe-o” expresso na típica propaganda política. Por outro lado, as composições do Clube criavam uma ponte, a partir de uma linguagem poética, com aspectos sócio-políticos, apontando a opressão presente nos anos de 1960. Em suas produções, a relação com o contexto cultural, social e político aparece nas letras em alguns momentos de forma esperançosa, criando uma contraposição à repressão vigente e, em outros, uma relação com os valores da contracultura. Por meio da mistura de traços rítmicos de estilos como jazz e música africana, considera-se que o clube resistiu ao âmbito repressivo, de forma inovadora e poética, mas não alienada.