Narciso é um personagem criado pela mitologia grega. Filho de Cefiso e Liríope, é conhecido como o “auto-admirador”, um rapaz de uma beleza incomum, mas arrogante e que desprezava seus admiradores. Sua beleza a todos entorpecia (narci vem de narcos, de entorpecente – usado por exemplo, em narcóticos) , mas de todos desdenhava. Condenado pela Deusa Nemesis (hoje, uma flor…) a admirar sua imagem no rio, Narciso definha, morre e é transformado em flor (outra flor…). O drama de Narciso é, por assim dizer, o drama da individualidade de todos nós na sociedade. Segundo Freud, a humanidade sofre com três grandes feridas narcisistas.
Primeira ferida – Nicolau Copérnico
Em 1543, Nicolau Copérnico publicou “Da revolução de esferas celestes”. Essa obra foi pra lá de bombástica e resultou em duro golpe para os geocêntricos (aqueles que acreditavam que tudo ocorria em torno da Terra). Copérnico noticiava para todos que a Terra girava em torno do Sol e não o contrário. Seu conjunto de evidências nos retirou do centro do mundo. Precisávamos, a partir daí, dormir com essa.
Segunda ferida – Charles Darwin
Em 1859, o inglês Charles Darwin mudaria o mundo. Ele e Alfred Russell Wallace introduziam a ideia de seleção natural. Mais que isso, a obra de Darwin – intitulada “A origem das espécies e a teoria da seleção natural” demonstrava com muitos exemplos que a espécie humana estava ligada a todas as outras, em uma espécie de árvore evolutiva (tínhamos uma ancestralidade comum!), em processo que se deu ao longo dos tempos e que continua em curso. Darwin nos advertia de que não somos o fim da evolução (nem como finalidade, e nem como “última parada”). Que pancada!
Terceira ferida – Sigmund Freud
Em 1900, quando publica “A interpretação dos sonhos”, Freud surge para o mundo. O pai da psicanálise, com sua extensa obra, introduz um conceito que ele próprio interpretaria como a terceira ferida ao narcisismo: o inconsciente. Ao estabelecer o que chamou de instâncias psíquicas, Freud organizou a mente humana em três partes: id, eu e supereu. O que chamou de id, consistia em algo inconsciente, algo que está em nós, mas em um lugar onde não habita nossa consciência. Não habita nossa consciência, mas participa ativamente do que costumamos nos identificar como indivíduo. Contestado por muitos, muitas descobertas da neurociência confirmam nossa “insconsciência” (embora aqui muitos acreditam ser algo diferente do que Freud teria dito e preferem chamar de “novo inconsciente”). Trabalhos recentes chegaram a provar que 95% do fazemos não foram pensados conscientemente por nós mesmos! Outra pancada!
Em síntese, são três duros golpes na nossa individualidade. As três feridas nos ajudam a entender que: não somos donos do mundo (Copérnico), não somos donos das outras espécies (Darwin) e não somos sequer donos de nós mesmos (Freud)…
Resta-nos, cambaleantes (depois de tantos golpes…), que calcemos as sandálias da humildade antes de sair por aí…