No meio científico, qualquer discussão sobre a importância das vacinas é póstuma. Por favor, fiquemos todos na mesma página: vacinar é preciso. A grande questão que nos assusta agora é a desigualdade vacinal. A variante Ômicrom e qualquer outra que venha a surgir expõem fato óbvio: onde houver ser humano, o risco de doenças humanas perdura. Ora, meus caros, não adianta definitivamente ter países com 70% de vacinados e outros com 7%. Isso é a desigualdade vacinal.
A desigualdade vacinal tem seus motivos e seus paladinos. Nos países ricos, não vacinar tem sido um ato da decisão individual, ato este contaminado (sem trocadilhos) pelo discurso de autoridades e formadores de opinião, todos eles arautos da desinformação. Discurso este vindo de muitas direções. Presenciei um deles recentemente, tentando me convencer. A vendedora me disse: “Eu? Vacinar? Quem é vacinada é vaca.” Poderia até ser uma “piada pronta” porque a palavra vacina vem de vaca, remetendo à descoberta pelo inglês Jenner e as vacas da varíola. Nos países pobres e periféricos, a situação é outra.
Se, neste momento, faltam vacinas no mundo, é uma questão de tempo resolver. No entanto, é certo que – assim como no caso da comida (que não falta no mundo) – a distribuição delas é péssima. Uma das grandes preocupações é o continente africano, exatamente onde surgiu a Ômicrom. Esta semana apenas 6,6% dos africanos estavam imunizados; apenas cinco países da África atingiram a marca de 40% de vacinados! Além da vacina não chegar, trabalham contrariamente ainda outros fatores como conflitos internos, falta de estrutura, falta de informação e desinformação.
A China acaba de oferecer 1 bilhão de doses para a África; os Estados Unidos anunciam ajuda; a OMS alerta-nos da questão há tempos. De certo, a pandemia nos revela aceleradamente o que sabemos e pouco mudamos: um mundo desigual.
A pergunta é: até quando vamos aguentar?
Vacina, mundo!