Que a tecnologia está impactando em diversas profissões isso não é novidade pra ninguém. Quase que diariamente nos deparamos com matérias abordando o futuro das profissões e as profissões que surgirão no futuro em detrimento deste impacto. No Direito não poderia ser diferente. Esta é a área que mais sofre impactos da tecnologia e que a grande maioria dos profissionais ainda não entenderam, não aceitam ou não acreditam que tal situação poderá mudar o exercício da profissão.
Tal pensamento mais fechado decorre da falência na educação brasileira em todos os seus níveis de escolaridade. Os alunos ingressam no mercado de trabalho sem habilidades que os auxiliem a se reinventarem na profissão escolhida ou numa possível transição de carreira.
Segundo informações do próprio Ministério da Educação (MEC) há no Brasil 1767 cursos de Direito e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) já registra pouco mais de 1,1 milhão de Advogados(as) no país, um número que representa cerca de 0,5% da população brasileira atualmente. A OAB continua na empreitada contra o MEC via ações judiciais para impedir que novos cursos sejam abertos e, apenas neste ano, realizou em Brasília debate sobre a qualidade do ensino jurídico. Mas não é suficiente. Gestão de escritório, finanças e contabilidade, empreendedorismo, inteligência emocional e tecnologia são alguns dos temas que faltam na grade curricular dos cursos de Direito não só do Brasil, mas de diversas universidades estrangeiras.
Neste 2019 a Associação Brasileira de Law Techs e Legaltechs (AB2L) já registrou em seu radar cerca de 140 startups de base tecnológica para resolver dores do mundo jurídico seja em escritórios e departamentos jurídicos, seja em órgãos públicos. Em 2017 haviam apenas 51 startups o que demonstra um aumento de cerca de 63,5% em dois anos. São startups que buscam soluções para gestão de processos e de escritórios, extração de dados do setor público, resolução de conflitos online, jurimetria, conexão entre profissionais, entre outras.
Dentre as tecnologias desenvolvidas por algumas destas startups destacamos o uso de inteligência artificial, ciência de dados e estatística para a elaboração de peças processuais, principalmente de demandas repetitivas nas quais os fatos e a fundamentação são praticamente os mesmos em substituição ao famoso copia e cola. Além da elaboração de peças processuais é possível ainda predizer resultados de demandas judiciais com base nas decisões dos Tribunais o que torna a tecnologia uma aliada estratégica para o escritório ou departamento jurídico para formação do próprio business intelligence.
Para 2020 a Aurum e o escritório Fauth & Sarandy Advogados preveem não apenas tecnologias, mas habilidades e inovações que serão exigidas do profissional jurista em detrimento das transformações que a sociedade e a nova economia estão passando. São elas:
- Habilidade para readaptação frente às mudanças ou para uma transição de carreira;
- Ter espírito colaborativo entre o time;
- Pessoas são mais importantes que tecnologia;
- Respeitar o tempo de cada profissional com empatia;
- Ter mais humanidade – a máquina não consegue desenvolvê-la;
- Cibersegurança para privacidade e proteção de dados;
- Inteligência artificial para alcançar melhores resultados;
- Blockchain no setor público;
- Compliance & Governança;
Perceba que a tendência da tecnologia no mundo do Direito é substituir tarefas que possibilitam a automação por uma máquina deixando o profissional mais livre para tomar decisões mais estratégicas. Se a OAB e o MEC voltarem seus olhares para as transformações que as profissões jurídicas estão passando conseguirão realizar mudanças mais significativas no ensino e na formação dos profissionais.