O país se aproxima da incrível marca de 500 mil mortes pela COVID-19. Desde o primeiro caso em 26 de fevereiro de 2020 e a primeira morte, no dia 17 de março de 2020, testemunhamos milhares de perdas. Sem medicamentos específicos e ainda sem a imunização preventiva, a única saída eram as medidas de evitar o contágio como afastamento social, uso de álcool em gel e máscaras. Continuamos sem medicamentos específicos para o vírus, mas já temos várias vacinas. Agora, que elas começam a ser muitas, você pode estar diante de um novo dilema: qual delas devo usar?
Quando se tem dor de cabeça, pode-se ir a uma farmácia e decidir entre ácido acetilsalicílico, dipirona ou paracetamol. São princípios ativos diferentes mas conseguem, em boa medida, conter a dor de cabeça. É uma decisão que se sustenta na oferta acessível das três possibilidades e na confiança de qual delas é melhor para o usuário. Não é a mesma situação da vacina.
A vacina (segundo a história do ocidente) surgiu em 1796, com o médico ruralista Edward Jenner (há quem diga que foram os chineses antigos os primeiros a desenvolverem a primeira vacina…). Tratava-se da vacina contra a varíola, feita a partir de vírus da varíola ovina. De lá pra cá, são mais de 225 anos. No entanto, houve um recorde histórico quando os russos anunciaram a Sputnik V, a primeira vacina contra a COVID-19, no dia 11 de agosto de 2020, ou seja, pouco menos de 8 meses depois dos primeiros casos em Wuhan, na China, no finalzinho de 2019. A vacina foi vista com certo descrédito pela comunidade internacional e ocidental, sobretudo pela suposta falta de dados publicados em revistas ocidentais (e talvez alguma dose de outras questões como geopolíticas, econômicas e outras vaidades). O certo é que a mesma vacina foi agora liberada no Brasil, quase um ano depois, pela ANVISA. Putin, na época, recordou Jenner: anunciou que a própria filha tinha sido imunizada com a vacina, assim como Jenner também testara com seu filho. Para quem desconhece, o Sputnik I foi o primeiro satélite artificial lançado ao espaço pelos soviéticos em outubro de 1957, iniciando uma corrida que entre outras questões acelerou o aparecimento da internet (depois, eu conto em outro texto…). Daí, veio o nome da vacina seguida do “V”.
Yes, nós temos vacinas! Já são cinco liberadas no Brasil: Coronavac, Oxford-Astrazeneca, Pfizer, Covaxin e Sputnik V. Qual é a melhor? Qual devo escolher?
No mundo ocidental, a primeira pessoa vacinada foi na Inglaterra, no dia 08 de dezembro de 2020. No Brasil, a primeira dose de vacina contra a COVID-19 foi dada em 17 de janeiro de 2021, e foi da Coronavac. A Coronavac é considerada uma vacina de primeira geração porque usa uma metodologia considerada convencional de preparação imunológica: é feita a partir do próprio coronavírus inativado por calor. Depois, por aqui, chegou a vacina de Oxford-AstraZeneca. Nesse caso, o método de desenvolvimento foi outro: modificaram o adenovírus (vírus do resfriado) de chimpanzé com material genético obtido de coronavírus. Depois, foi a vez da Pfizer, a primeira das vacinas genéticas. Usam nanopartículas lipídicas com RNAm dentro para serem incorporados pelas células corporais e sintetizarem a proteína spike, fortemente antigênica e promovedora da reação que resultará na formação de anticorpos e células de memória. A Sputnik V utiliza método parecido com a da Oxford-AstraZeneca embora os adenovírus sejam humanos, o que a princípio, seria melhor. A vacina da Covaxin é semelhante à da Coronavac, embora a inativação do vírus seja feita de modo químico. Uma pergunta que não quer calar é a da eficácia e a dos efeitos colaterais quando comparadas entre si. Em ambos os casos, as vacinas vão variar inevitavelmente. Ocorre que elas variam não só por características intrínsecas delas mas variam também em função dos indivíduos que as recebem. Embora, se façam acompanhamentos de grandes grupos de testantes exatamente para avaliar essas questões (e nesse caso, o Brasil é um “grande laboratório a céu aberto” devido ao nosso alto grau de miscigenação), a eficácia é alta para todas elas (ao menos para evitar os casos graves) e os efeitos colaterais baixos em relação à potência do novo coronavírus. Em outras palavras, é muito (mas muito mais!) importante vacinar do que qualquer outra questão relativa à origem, à nacionalidade, ao método, aos efeitos colaterais ou à eficácia (desde que obviamente feitos todos os testes pré-clínicos e clínicos) das vacinas. O Brasil vive, neste momento, um ritmo lento na vacinação, sendo que no dia 04 de junho de 2021, tínhamos 10,77% de brasileiros com as duas doses. Assim, levamos quatro meses para passar de 10% da população plenamente imunizada (todas as vacinas disponíveis no Brasil até o momento exigem duas doses – a única das disponíveis com apenas uma dose é a da Jansenn). Ora, sendo assim, levaremos 40 meses para vacinar todos nós?
Não é hora de escolher vacina. É hora de vacinar.
Um Comentário
Matheus
Muito estranho isso. Minha irmã foi proibida pela ginecologista de tomar Astrazeneca. Está esperando Pfizer ou Coronavac. Nos eua a AZ não foi aprovada. Na europa vários países têm limitado a aplicação da AZ pelo critério de idade. As pessoas têm o direito de escolher sim. Inclusive escolher não tomar e/ou esperar outra fabricante.
brenda
Eu concordo parcialmente com esse texto.Sim realmente as vacinas demoraram bastante para chegar aqui no Brasil (por conta desse nosso presidente genocida que a gente tem) e isso fez com que demorasse muito mais tempo do que o esperado para serem efetuadas todas as vacinações. Mais a gente tem sim todo o direito de poder querer escolher a vacina que nos preferimos tomar.Ate porque algumas dessas vacinas estão causando alguns efeitos colaterais do qual são bem graves.