No cinema para a vida
No dia 03 de outubro deste ano, foi lançado o filme Joker (Coringa). De acordo com o site AdoroCinema, o filme levou nota 5,0 nas críticas, para os usuários, o filme mereceu uma nota de 4,5 e a imprensa 4,2. A média crítica do filme pode ser considerada elevada, com toda certeza. Mas o que iremos analisar é algo bem diferente.
É possível que um personagem se transforme em um ser na vida real? A loucura tratada é ficcional ou é real?
Admito que não sei nada sobre patologias da mente – a quem se interessar, indico um artigo que trata sobre o livro Cinema e Loucura ou no cinema brasileiro, que há um artigo muito bom sobre Representações Imagéticas no Cinema Brasileiro. Não sou psicólogo e acredito não ter tal perícia para opinar, quem diria para escrever sobre. Tratarei sobre a teoria do personagem e suas loucuras.
Louco, louco e louco
Diversos personagens na ficção são loucos. O que se entende por loucura é, na verdade, uma marginalização do que é considerado normal, do que a sociedade regula ser, na verdade. Dependendo de como e quem analisa a obra em questão, haverá muitos detalhes, como quando citado Jean Claude-Carrière no livro Literatura e Cinema (2007, vol. 1), da coletânea Mistérios da Criação Literária, de José Domingos de Brito (Org.).
Compreende-se assim que, qualquer pessoa que faça algo que não é aceito pela sociedade, é louca. De certo modo, eles têm razão. Por outro lado, entender quão complexo é esse raciocínio também é um movimento necessário.
Em o célebre livro de Lewis Carroll, Alice no país das maravilhas, encontramos diversos exemplos de personagens ficcionais que possuem traços de loucura – isso para não dizer completamente loucos -, ou que possuem em seus nomes, o adjetivo louco ou maluco, como o Chapeleiro Maluco.
Ser e Estar, eis a questão…
O processo ficcional é colaborativo e instigante. Não é possível criar um personagem do zero. O que se pode fazer é se inspirar em um – ou vários – já existentes. A completa inovação é difícil e teoricamente impossível – algo que muitas vezes não acontece na prática, já que temos diversos escritores inovando em diversos pontos de suas narrativas e ficções -, no entanto, trataremos de algo bem mais filosófico.
O ser ficcional, paradoxalmente, existe nas entrelinhas. Ele é apenas no papel, onde está situado. Em línguas onde os verbos ser e estar significam coisas diferentes, estando separados – no inglês eles são o mesmo, verb to be, que através do contexto, sabe-se qual é qual -, pode-se entender que, o indivíduo pode ser sem estar? E o contrário, estar sem ser, é possível?
Bem, é confuso, eu sei. Mas imagine-se comigo:
Eu existo independentemente de estar? Sim, certo?
Eu consigo existir no meu quarto, enquanto outras pessoas existem em outro lugar, o que não significa que eu precise estar onde elas estão para existir (para ser).
Logo, o verbo ser está atrelado ao verbo existir.
Já é possível estar se não existe? Por exemplo, é possível uma galinha de 20 olhos, 7 cabeças e 1 ouvido estar na sua sala? Bem, até seria possível, se ela existisse.
Já que entendemos isso, passamos ao cinema e aos livros.
Cinema, livros e ficção
Nos livros, novamente, nos baseamos em algo que já existe, ou seja, vemos ou pensamos e depois escrevemos. No cinema, mais ainda, nos baseamos em outros filmes, livros, músicas e etc… Ou seja, nos baseamos nas produções já existentes.
O ser ou indivíduo louco é tão importante na história que uma das cartas mais significativas do tarot é “o louco”, uma das 78 cartas e o vigésimo segundo Arcano Maior – nome dado ao conjunto principal das 22 cartas que compõem o grupo do tarot, diferenciando-se das menores -, isso significa que se para a prática esotérica e mística essa figura é importante, imagine para a ficção, em si.
Já que a ficção se apropria de inúmeras figuras místicas e de práticas de nosso imaginário. Isso passa a significar uma verdade, logo, o imagético se transforma em real em nossas mentes.
Essa é a grande importância do imaginário para os livros, cinema e para a ficção, já que sem o imaginário, não teríamos esse conteúdo tão amplo para decorrer – tendo mais interesse, sugiro o artigo Elogio à loucura.
Que loucuras lerei?
Eis aqui algumas poucas reflexões sobre a loucura na ficção.
Agora, ao ler um bom livro sobre a loucura ou algo ficcional, saiba dessas boas novas.
Por Pedro Rosemberg