O que vocês conhecem do cinema europeu?
É possível que a maioria de vocês, leitores, já tenha assistido a filmes italianos, franceses, alemães e espanhóis. Mas o velho continente é muito vasto e repleto de diversidade. Cada país tem suas peculiaridades, seus costumes e o cinema é uma fantástica porta para o conhecimento e aprendizado sobre esse povo tão rico em cultura.
Pesquisem sobre a sétima arte na Europa! Vocês não irão se arrepender!
Aproveito o espaço para trazer duas indicações da terra do Jean-Claude Van Damme, ícone cinematográfico da Bélgica! Sim, ele é ídolo por lá! Tem até uma estátua em praça pública na capital Bruxelas, local que tive a incrível oportunidade de conhecer justamente no momento em que o ator estava por lá promovendo sua série da Amazon Prime. Mas deixarei essa história para uma outra oportunidade.
Vamos às indicações, ambas da década de noventa.
A primeira é uma joia rara, vencedora do Globo de Ouro na categoria Melhor Filme Estrangeiro em 1998. Conheçam a história de Ludovic, uma criança de 7 anos de idade, que gosta de vestidos, tem predileção pela cor rosa e fala em se casar, futuramente, com o filho do vizinho, um menino da idade dela. Só que ninguém entende, aceita ou tolera tais comportamentos! Nem mesmo os pais dela, os quais simplesmente não fazem a mínima ideia de como lidar com tudo isso!
Mas o que haveria de errado com tais atitudes, já que, teoricamente, seriam perfeitamente normais para uma criança! O problema, leitores, é que todos a enxergam como um menino! Mas será que ela é mesmo um menino como todos pensam?!
“Minha Vida em Cor-de-Rosa” foi dirigido pelo belga Alain Berliner em 1997 e trata de uma temática sensível e importantíssima, a identidade de gênero, de modo extremamente envolvente! A obra brinca com as cores, passeia pelo lúdico e não poupa circunstâncias realistas para instigar a reflexão do espectador e estimular a quebra de paradigmas! Pode ser chocante para uns, mas é realidade nua, crua e inocente na ótica de uma criança! Vejam!
A segunda indicação, de igual sorte, aborda uma questão humana que comoverá o coração dos mais fortes e que me fez chorar em, pelo menos, dois momentos diferentes. Não sou de chorar em filmes, mas esse aqui me tocou como nenhum outro.
Harry é um típico executivo que vive numa desgastante e repetitiva rotina de trabalho. Ele não costumava enxergar qualquer propósito maior na sua medíocre vida vazia e inócua. Tudo trilhava nesse norte até ele encontrar Georges, abandonado pela família após a morte de sua mãe, mas que, a despeito do sentimento de rejeição, mostrava-se um ser distinto e imaginativo capaz de enxergar o divino em coisas pueris.
De um lado, um homem frio, mecânico, ríspido e egocêntrico. Do outro, alguém sensível, especial e com uma aparente missão a cumprir. Qual será o resultado do encontro de dois seres tão díspares? Deslumbrem-se com essa belíssima poesia cinematográfica que trata, com uma leveza inigualável, de temas sensíveis como “amizade”, “família”, “esperança” e “aceitação”.
“O Oitavo Dia” (1996) foi dirigido pelo também belga Jaco Von Dormael, sendo indicado ao Globo de Ouro na categoria Melhor Filme Estrangeiro em 1997. E, pela primeira vez na história do Festival de Cannes, duas interpretações – ambas dessa comovente obra – dividiram o prêmio de Melhor Ator: Daniel Auteuil e Pascal Duquenne, pessoa (talentosíssima) com síndrome de Down. O filme, ainda, foi indicado à Palma de Ouro do citado festival francês. Vejam também!
Duas pérolas do cinema europeu desconhecidas por muitos e que merecem ser descobertas por vocês!
Ambos foram indicados ao Globo de Ouro, mas “Minha Vida em Cor-de-Rosa” levou a estatueta para casa. A atenção à identidade de gênero e a forma como Berliner conduziu a narrativa cativaram os críticos. Quanto a “O Oitavo Dia”, a sensibilidade de Von Dormael e as performances memoráveis da equipe técnica levaram a uma indicação histórica em Cannes.
Então, bora curtir essas pérolas do cinema belga ainda desconhecid de muitos? Não percam mais tempo, cinéfilos!