Dia 23 de julho, foi publicada na revista Science uma análise sobre os custos de se monitorar e prevenir a propagação de doenças, evitando cenários de pandemia como o que vivemos hoje com a COVID-19.
Esse estudo foi conduzido por uma equipe internacional de ecólogos, médicos, economistas e ambientalistas de 14 instituições diferentes, e contou com a participação da Dra. Mariana Vale, chefe do Departamento de Ecologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Mariana é Coordenadora da Sub-rede de Biodiversidade da RedeCLIMA (MCTIC), membro do Conselho Gestor do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Ecologia, Evolução e Conservação da Biodiversidade (INCT EECBio) e do Conselho Consultivo do Parque Nacional da Tijuca. Além disso, é também secretária da Seção para América Latina e Caribe da Society for Conservation Biology e membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC).
Nas palavras dela, “A relação entre desmatamento e tráfico de animais silvestres e o surgimento de doenças emergentes é muito bem estabelecida. Mesmo assim, ações ambientais estão essencialmente fora da agenda de prevenção de pandemias”.
No artigo, os autores mostram que diversos vírus que passaram de hospedeiros animais para os seres humanos no último século tiveram relação com o contato próximo entre pessoas e animais silvestres, como morcegos e macacos. Em alguns casos, os animais infectaram humanos diretamente; em outros, a infecção foi indireta através de animais consumidos por humanos.
Locais próximos à borda de florestas tropicais onde mais de 25% da floresta original foi perdida, tendem a ser focos de transmissões virais entre animais e humanos. Morcegos, por exemplo, que são os prováveis reservatórios de virus como o da Covid-19, passam a se alimentar nas proximidades de assentamentos humanos quando seu hábitat natural é perturbado pela construção de estradas, extração de madeira e outras atividades humanas.
A boa notícia é que dá para a gente evitar que uma nova pandemia como a da COVID-19 aconteça novamente. Basta que haja investimento em programas que monitorem e reduzam a destruição das florestas tropicais e as atividades de tráfico de animais silvestres. Isso porque sai mais barato aplicar esse tipo de ação do que lidar com as consequências de uma pandemia global. Além disso, os autores também recomendam que haja investimento em pesquisas focadas na detecção e controle de vírus que tenham potencial pandêmico, programas de educação ambiental para sensibilizar a população sobre o tema e assim reduzir o desmatamento tropical e o consumo de animais silvestres como forma de alimento.
CITAÇÃO: “Ecology and Economics for Pandemic Prevention,” Andrew P. Dobson, Stuart Pimm, Lee Hannah, Les Kaufman, Jorge A. Ahumada, Amy W. Ando, Aaron Bernstein, Jonah Busch, Peter Daszak, Jens Engelmann, Margaret Kinnaird, Binbin Li, Ted Loch-Temzelides, Thomas Lovejoy, Katarzyna Nowak, Patrick Roehrdanz,and Mariana M. Vale; Science, July 24, 2020. DOI: 10.1126/science.abc3189