Em 1985, uma banda surgia, de Brasília para o mundo: Legião Urbana. O primeiro álbum trazia 11 músicas tendo ficado mais conhecidas: “Será” e “Geração Coca-cola”. Quando ouvi, não havia dúvida em mim que queria ouvir de novo, e de novo, e assim por diante, até (como dizíamos) “furar o disco”. Dentre as demais músicas, uma sempre me chamou a atenção pelo nome: “Baader-Meinhof Blues”. Por que esse nome?
A música começa com os instigantes versos & #8220;A violência é tão fascinante / E nossas vidas são tão normais (…)”. Talvez, seja o trecho que mais remete à escolha do título. O Grupo Baader-Meinhof foi uma organização guerrilheira de verdade que surgiu em 1970 na Alemanha Ocidental (Sim! A Alemanha já foram duas, depois da Segunda Guerra Mundial, sendo a Alemanha Ocidental de influência estadunidense e a Oriental de influência soviética). Tratava-se de um grupo extremista de esquerda, uma fração do chamado exército vermelho. Dois líderes deram o nome ao grupo. Andreas Baader (1943-1977) foi ativista e organizou o grupo em várias ações de protesto contra o capitalismo, contra os Estados Unidos e contra a pobreza. Outra líder, foi a jornalista Ulrike Marie Meinhof (1934-1976) acusada de participar de ações como assaltos, atentados à bomba, assassinatos. No total, foi acusada de 4 homicídios e 54 tentativas de homicídio. A história pessoal de Meinhof é muito interessante.
Ela era uma jornalista de vida aparentemente normal até em determinado momento em que tudo parece mudar. Em 1962, ela fizera uma cirurgia no cérebro para retirada de um tumor benigno. A cirurgia teria sido um sucesso. Mas pode ser que não. Em 1976, foi encontrada morta na cela (não se sabe até hoje com absoluta certeza se praticou auto-extermínio ou foi assassinada). Na autópsia, verificou-se que um tecido de cicatrização pós-cirúrgico e restos do tumor estavam pressionando uma estrutura chamada amígdala. E daí?
A amígdala pertence ao sistema encefálico chamado límbico. Ela está ligada com alguns comportamentos como os de insegurança, medo e… agressividade. Há vários indícios de que, no caso de Meinhof e em outros (depois procurem o caso de Charles Whitman – “o atirador da Torre do Texas”), essa pressão de um órgão sobre o outro, possa ter desencadeado novos comportamentos, sendo eles violentos. Teria a extremista sido um produto da mudança da estrutura cerebral e a jornalista seu “normal”?
Renato Russo continua dizendo:
Pra seu governo
O meu estado é independente
Renato retoma a ideia da célula terrorista, transbordando revolta e atacando o governo (alemão) “submisso aos ianques”. O Baader-Meinhof ainda deixou mais duas gerações de terroristas, terminando suas ações em 1998, ano em que Renato Russo já tinha nos deixado. Mas há aqui uma trama que mescla violência, história, sistema nervoso e música boa.
Dicas? Escutem “Baader-Meinhof Blues” da banda Legião Urbana e vejam o filme: “Grupo Baader-Meinhof” de Stefan Aust, 2008.