Karatê Kid “A Hora da Verdade” (KtK) foi lançado em 1984, um sucesso no cinema e na Sessão da Tarde. Enredo simples e cativante, Daniel Larusso é o garoto novo na escola e sofre bullying por um bando de valentões que lutam karatê na academia Cobra Kai. Ele encontra seu mestre em um zelador japonês, Sr. Miyagi, que o ensina a lutar e se defender dos seus algozes. No final, como só o cinema pode produzir, o herói vence seus inimigos superando o derradeiro desafio: Jonny Lawrence, o melhor aluno Kobra Kai.
Há duas sequências em 1986 e em 1989. Em 1994 uma nova história e nova protagonista e finalmente um remake em 2010. Como qualquer obra de ficção o original é o que conta. De todo modo entende-se que a história continua depois dos créditos finais e, em 2 de Maio de 2018, continuou. O projeto nasceu como uma produção original do Youtube Premium para a felicidade geral da nação do “enta” e depois foi comprada pela Netflix em 2019.
A série introduz ao espectador o vilão Jonny Lawrence agora como protagonista da nova geração. Revendo o primeiro KtK com um certo distanciamento percebe-se que não conhecemos nada a respeito do Sr. Lawrence a não ser as informações necessárias para que o espectador veja ele como um mero antagonista odiávelzinho, com o perdão do neologismo. Ele é o Bully da escola, é babaca, playboy opulento, anda em bando com seus semelhantes e cujo mestre e exemplo de vide é um sociopata.
Desta vez boa parte da série mostra quem foi Jonny Lawrence e o que ele se tornou. Uma das características mais interessantes em torno desta onda das novas produções (boas produções, diga-se) é a complexa relação entre escolhas e consequências e seus personagens. O ex-Karateka é um fracassado de meia idade, parado no tempo remoendo o passado pré-Larusso glorioso, vale dizer: o cara sequer tem um mísero celular. Uma relação de oposição entre ele e um Daniel adulto confiante e extremamente bem-sucedido.
A trama gira em torno do arco de amadurecimento de um Jonny mais complexo que os espectadores não conheciam e seus conflitos internos por perder os eixos de sua vida na adolescência. Agora o adulto irresponsável e sem perspectiva na vida torna-se o mestre e orientador de crianças inseguras que sofrem Bully de outros garotos cujo comportamento se assemelha ao dele na mesma idade. Os mais espiritualizados diriam que é carma, os mais cínicos, ironia.
Seja como for, a série é uma análise sartreana sobre escolhas em momentos decisivos na vida, afinal “Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você” (Sartre), mas sem Spoilers ainda. Um prato cheio para os Fans da época, uma série digna de maratonar e um convite às novas gerações aprenderem a “porem a cera e tirarem a cera”.