Um telefone sem fio. Hoje, pensaríamos no celular. Um pouco antes, pensaríamos naqueles com um dock na mesa mas com a liberdade de andar pela casa e depois devolvê-lo para a base. No fim do século XIX, no entanto, poderíamos estar falando do aparecimento do rádio?
Se sim, quem foram seus pioneiros? Olha só que interessante! Assim como no caso do avião, paira um “interessado” mistério no ar: quem foi o seu precursor? Quem teria sido o inventor? E, em ambos os casos, temos um brasileiro como centro das discussões: Santos Dumont e o Padre Landell.
Padre Roberto Landell de Moura (1861-1928) foi um dos precursores do rádio, não hesitemos em dizer. Nasceu em Porto Alegre. Estudou por aqui até o equivalente ensino médio na época e mais tarde, foi para Roma. Na Itália, graduou-se em Física, Química, Teologia e Filosofia. Em 1886, tornou-se sacerdote, retornando ao Brasil. Uma paixão desenvolveu-se em todo esse tempo: a ciência. Inventor e entusiasta da eletricidade – o galvanismo! – celebrado na obra marcante de Mary Shelley (Frankstein, em 1818). Paixão essa comunicada diretamente ao Imperador D. Pedro II, outro fã do progresso científico.
O telégrafo já existia (1835). O telefone (com fios) já existia (1875). Landell produziu um aparelho com uma capacidade nunca vista: um transmissor de voz sem fios. A transmissão ocorreu provavelmente no final do século XIX (entre 1893 e 1894), mas o detalhamento dela ainda é desconhecido. Documentada pelo Jornal do Commercio, foi uma transmissão feita em 1899. A transmissão teria ocorrido a partir do Colégio Santana para uma residência, na Avenida Paulista, região central de São Paulo. Em linha reta, seriam 8km. Ninguém sabe o que teria sido dito e nem por quem. Algo do qual não se tem dúvidas é de que efetivou a transmissão da palavra falada em ondas eletromagnéticas.
Patenteou suas descobertas no Brasil e nos Estados Unidos. Mas nada foi fácil. A condição eclesiástica e seu alinhamento com a ciência e o progresso incomodava (foi advertido oficialmente por seus superiores por três vezes). No entanto, queria mostrar que a Igreja não era inimiga da ciência e do progresso humano. Teve seu laboratório vandalizado por “devotos” que o acusavam de estar usando a seus equipamentos para “falar com os mortos”. Percebeu-se na condição de censurado e sentiu-se como Galileu, a ponto de chegar a escrever sob pseudônimo para evitar a fúria de alguns. Entre tanta resistência, em um país sem tradição científica e periférico, sem apoio logístico, financeiro e institucional, seu feito se torna ainda mais histórico.
Landell foi o primeiro ser humano que a transmitir voz ou ruídos sem fio por ondas eletromagnéticas, muito antes do premiado com o Nobel, o italiano Marconi. Marconi, Tesla, Morse, Bell, Hertz, Popov, Fessenden… Todos eles estão presentes como pioneiros na associação da comunicação com a eletricidade e as ondas eletromagnéticas. São iniciadores de uma revolução da qual usufruímos em outra escala atualmente, atingindo a “Galáxia de Gutemberg”. Nesta galeria, é absolutamente necessária a presença de Padre Landell. Os veículos de telecomunicação e, particularmente, o rádio deve a este homem a merecida e permanente saudação de todos. Sobretudo em tempos tão sombrios para se fazer e falar de ciência.