“Nossa relação com as pessoas consiste em discutir com elas e criticá-las. Foi isso que me afastou, por vontade própria, de toda minha vida social. Isso tornou minha velhice solitária. (…) Talvez deva acrescer que sou um velho meticuloso, o que às vezes tornou a vida penosa tanto para mim quanto para os que convivem comigo. Meu nome é Eberhard Isak Borg e tenho 78 anos”.
Deparar-me com isso, ainda antes dos créditos iniciais do magnífico “Morangos Silvestres” (1957), congelou minha alma, embargou minha voz e sufocou minha respiração! Ora, ainda tenho um longo trajeto para chegar aos 78 anos de idade e já carrego o fardo dessa angustiante e dolorosa reflexão! Referido prólogo despertou minha atenção para cada segundo subsequente dessa profunda obra. E a experiência, posso atestar, foi incrível!
Conheçam a jornada de um professor com 50 anos de experiência em medicina, que começou a trabalhar para sobreviver, mas acabou amando a ciência. E, junto com esse paradigmático professor, há um ser vazio, egoísta, indiferente, pesado e atormentado que anseia por uma redenção! Entre terríveis pesadelos, passeios nostálgicos por um passado sombrio e imprescindíveis contatos humanos com o presente, ele percorre caminhos importantes para a sua autodescoberta.
Embarque junto com Isak e reflita sobre a sua própria existência. É transcendental! Trata-se de uma pérola do cinema sueco que merece ser conhecida! Escrita e dirigida por Ingmar Bergman, o mesmo realizador dos vencedores do Oscar “Fonte da Donzela” (1960), “Através do Espelho” (1961) e “Fanny e Alexander” (1982). O talentoso realizador nórdico dirigiu, ainda, dentre uma vasta filmografia iniciada na década de quarenta, os aclamados “O Sétimo Selo” (1957) e “Gritos e Sussurros” (1972).
“Morangos Silvestres” venceu o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro em 1960 e foi indicado, no mesmo ano, ao Oscar na categoria Melhor Roteiro Original. Ganhou, ainda, o Urso de Ouro no Berlinale (Festival Internacional de Cinema de Berlim) em 1958.
Depois de uma overdose do Bergman, permaneça ainda na Suécia e viaje para a década de oitenta para conhecer o talentosíssimo Lasse Hallström e sua formidável obra “Minha Vida de Cachorro” (1985).
Vencedor do Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro em 1987 e indicado ao Oscar nas categorias Melhor Diretor e Melhor Roteiro Adaptado (raridade para uma obra de língua não inglesa), essa pérola conta a comovente história do menino Ingemar, o qual é levado para morar na casa de parentes após um grave problema de saúde acometer a sua mãe. Lá ele conhece figuras peculiares e vive um drama infantil extremamente envolvente!
Depois do megassucesso mundial dessa obra, o realizador sueco Lasse Hallström enveredou pelos Estados Unidos e passou a dirigir filmes com elencos de estrelas hollywoodianas, casos de “Gilbert Grape – Aprendiz de Sonhador” (1993) com Johnny Depp e Leonardo DiCaprio; “O Poder do Amor” (1995) com Julia Roberts e Dennis Quaid; “Regras da Vida” (1999) com Tobey Maguire, Charlize Theron e Michael Caine; e “Sempre ao Seu Lado” (2009) com o Richard Gere.
Se você ainda não foi introduzido ao mundo do cinema sueco, comece por aqui, com os dramas “Morangos Silvestres” e “Minha Vida de Cachorro”. Não há alegorias, pompas nem firulas estadunidenses. São narrativas simples, singelas, emotivas e extremamente reflexivas, com qualidades irretocáveis! Em seguida, veja outros filmes do Bergman, sobretudo os que citei nesse texto.