As mulheres vem conquistando cada vez mais espaços que antes eram ocupados majoritariamente por homens. Na ciência, isso não é diferente. Ao longo das últimas décadas, a busca das mulheres por igualdade de gênero tem se intensificado no ambiente acadêmico, e cada vez mais é possível encontrar mulheres sendo reconhecidas e valorizadas pelas suas pesquisas.
Apesar disso, ainda há muitos espaços a serem conquistados, e na América latina isso é ainda mais evidente. Numa sociedade em que o orgulho masculino é enraizado através do machismo, ainda há um número reduzido de mulheres em posições de poder, as quais são ocupadas majoritariamente por homens brancos e héteros. A necessidade constante de provar o seu valor, a sua capacidade e o seu conhecimento assombram as mulheres cientistas em diversas áreas de atuação e em todas as fases da sua formação, levando-as muitas vezes a duvidarem de si mesmas, o que gera um sentimento de impotência, insegurança e baixa autoestima. Por conta disso, muitas mulheres acabam optando por abandonar suas carreiras em diferentes estágios acadêmicos, fenômeno conhecido como vazamento de duto.
Estas cobranças são ainda maiores para mulheres que são mães, uma vez que as medidas de sucesso no meio acadêmico ainda hoje são pautadas em métrias simplistas de uma produtividade meritocrática onde o número de artigos publicados muitas vezes conta mais do que a qualidade do trabalho executado. Vale ressaltar ainda que mulheres de diferentes raças, classes, identidades e orientações sofrem de maneira diferente com o machismo enraizado.
Para evitar o vazamento de duto e estimular que meninas e mulheres sigam seus sonhos de se tornarem cientistas, diversas redes de apoio tem surgido ao redor do mundo. Tais redes são formadas muitas vezes exclusivamente por mulheres, e tem como objetivo principal a busca pela igualdade de gênero nas ciências. No Brasil, já existem incontáveis iniciativas como esta espalhadas por todo o país, desde aquelas voltadas para áreas específicas até aquelas mais abrangentes. Aqui, iremos destacar duas destas iniciativas: o Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (NEIM), fundado em 1983, e a Rede Kunhã Asé de Mulheres na Ciência, fundada em 2019.
Além de ter sido pioneiro na abordagem da temática feminista dentro do ambiente acadêmico no Brasil, o NEIM se destaca por sua excelente atuação na promoção de atividades nas áreas de Ensino, Pesquisa e Extensão, os três pilares da Universidade Pública, com enfoque na formação de uma consciência crítica a respeito das relações de gênero hierárquicas comuns na nossa sociedade. O núcleo atua com o propósito de estimular a realização de pesquisas interdisciplinares acerca da temática de gênero, além de fornecer subsídios para formulação de políticas públicas que visem a equidade de gênero e desenvolver atividades de ensino e extensão na temática.
A Rede Kunhã Asé de mulheres na Ciência, por sua vez, é uma rede que busca fornecer apoio emocional e intelectual à meninas e mulheres que se interessem por ciência, visando promover seu ingresso e permanência no ambiente acadêmico e assim diminuir o vazamento de duto. Seu nome é uma homenagem aos povos indigenas e negros, e significa Mulher Poderosa (Mulher = em Guaraní, “Kunhã”; Poderosa/de Poder = em Yorubá, “Asé”), nos remetendo à força da mulher e desses povos tão importantes para a construção da sociedade Brasileira, e ao mesmo tempo tão injustiçados. Ao contrário do NEIM, a rede Kunhã Asé é uma iniciativa recente, mas vem ganhando destaque na mídia por conta de suas ações em prol da equidade de gênero nas ciências.
Através de três linhas de atuação principais, a rede busca estimular o ingresso de meninas nas ciências (Linha Semear); acolher mulheres no início de suas jornadas acadêmicas, diminuindo assim o chamado vazamento de duto (Germinar); e, por fim, mapear as dificuldades de mulheres cientistas nas suas carreiras e buscar soluções pragmáticas para saná-las (Florescer). Dentre as diferentes atividades promovidas pela rede, estão visitas à escolas, participação em eventos e promoção de oficinas e mesas redondas.
Durante a pandemia, a rede migrou suas atividades para o ambiente online, e tem oferecido oficinas e palestras através de seu instagram. Um exemplo disso é o quadro “Coisa de Mulher”, que visa promover bate papos ao vivo sobre as mais diferentes temáticas que tangem a realidade enfrentada pelas mulheres nas ciências. Sempre contando com uma convidada especializada no tema da semana, o quadro ocorre toda quarta feira no Instagram, e é disponibilizado em seguida no canal do Youtube. Vale a pena conferir!
Apesar de todas as dificuldades enfrentadas, o empenho destas e outras redes de apoio tem tido resultado, e cada vez mais mulheres estão entrando e permanecendo no meio acadêmico. Estas redes nos mostram algo bem claro: Lugar de Mulher é onde ela quiser, inclusive fazendo ciência!