“Não é o que eu sou por dentro e sim, o que eu faço que me define”
– Bruce Wayne –
Após inúmeras adaptações para o cinema, o morcegão ganhou a versão de Nolan, que por sinal foi muito bem recebida devido às suas características marcantes. Aqui vamos falar sobre o legado deixado por essa produção ao futuro da Sétima Arte.
Construindo o Wayne
Pelo pouco do que você tenha lido ou assistido sobre o personagem, deve ter notado que as histórias sobre o assassinato envolvendo os pais do mesmo, acabaram determinando seu destino para se tornar o Batman. No cinema esse acontecimento já havia sido noticiado pela versão do Batman (1989) de Tim Burton, com o Coringa sendo o assassino para criar um contexto mais dramático.
Em Batman Begins (2005), Bruce se sente culpado pela morte dos pais, vivendo um misto de impotência e raiva que o domina pela infância, adolescência e início de vida adulta. Sua amiga Rachel (futuro colóquio amoroso) se preocupa com a sede de ódio que o domina e isso faz com que ela o repreenda. O rapaz, percebendo um egoísmo excessivo de sua parte e vendo a podridão existente no submundo de Gotham (sua cidade) decide partir em uma jornada com o objetivo de sair da sua bolha e entender qual a verdadeira face do mundo ao qual pertence e conhecer o seu verdadeiro “eu”, trabalhando a força do nome de sua família.
Essa viagem é interessante do ponto de vista narrativo, pois temos nos primeiros minutos do filme, a existência de uma mini “Jornada do Herói”, ou melhor, “Jornada do Bruce” que prepara o terreno para quase na metade do longa, entrarmos na “Jornada do Batman”. Quando se coloca as duas caminhadas em ação, os ideais do personagem se tornam bem críveis e com isso, a história vai para um patamar muito forte de interação com o espectador.
O objetivo do Diretor em criar um herói mais humano fica evidente quando somos apresentados aos títulos da trilogia, pois “Batman – O início” nos força a entender que veremos um movimento a partir de uma origem, e não estamos falando de uma introdução em cinco minutos para rapidamente ir à pancadaria. Nolan percebe a necessidade de formar o caráter do Bruce Wayne antes de se direcionar a justiça presente em Batman.
Eu sou o Batman
Fundado o território Wayne em Batman Begins, vamos para mais duas sequências que marcaram o cinema, com sucesso de críticas e bilheteria. Agora o herói carrega a alcunha de “Cavaleiro das Trevas”.
Ra’s Al Ghul chegou para mostrar que um bom herói não se faz sem um ótimo vilão. Como líder da “Liga das Sombras”, foi o responsável por fazer Bruce enxergar que a justiça nem sempre é justa, mas é o jeito correto para lutar contra o mau.
Após essa lição, Wayne viu o poder que tinha em mãos para combater o crime escancarado em Gotham. Muitos se viram calados e com medo, mas sentiram a presença de um símbolo que bate de frente com as irregularidades. Agora eles têm um protetor.
No segundo filme da saga, Batman divide os holofotes com o que talvez seja seu maior algoz, Coringa! Não sabemos sua origem, mas instaurar o caos anárquico é a sua maior qualidade. Ao mesmo tempo em que o palhaço aparece, Harvey Dent (futuro Duas Caras) arca com o mundo político para limpar a criminalidade da cidade, infelizmente falhando em seu trabalho e se tornando o que combatia.
Batman vê a potência do Coringa em puxar mentes boas ao seu planejamento e usa todos os seus artifícios para pará-lo, consegue, mas depois de um enorme estrago feito, inclusive perdendo sua amada, Rachel. Além de sua perda, foi obrigado a ver sua cidade o taxar como antagonista e isso foi o suficiente para deixar seu manto guardado por um longo tempo.
O longa-metragem derradeiro dessa trilogia se trata do renascimento pessoal de Bruce, pois perdeu mais uma das mulheres de sua vida e Gotham necessita o retorno do morcego, já que integrantes da “Liga das Sombras” (Talia Al Ghul e Bane) aparecem como grande ameaça.
O ressurgimento do Batman é um tanto quanto conturbado, pelos fatores listados acima com o adicional de todos acreditarem ser ele o culpado pela morte do Harvey (o incorruptível na cabeça do povo). Recebendo apoio de velhos amigos (Lucius Fox, Jim Gordon e Alfred), do jovem policial Robin e da Selina Kyle (Mulher-Gato), ele bate de frente com os inimigos e deixa a cidade segura.
Batman com sua identidade agora revelada aos mais próximos, percebe que suas ações deixaram a cidade segura por um tempo e que está na hora de aposentar a fantasia, pois entregou o que Gotham precisava naquele momento, esperança e paz. Além de deixar a população em tranquilidade, Bruce encontrou um novo amor em Selina Kyle, passou seu legado ao Robin e concluiu sua jornada pessoal.
O legado da trilogia
Depois de assistirmos as versões cartunescas do héroi no cinema, promovidas por Tim Burton e Joel Schumacher, que óbviamente tem seu valor, Nolan mostrou que trazer vários tipos de adaptações para uma mesma história base é algo sempre bem vindo.
A trilogia iniciada em 2005 com fim em 2012, teve tempo de qualidade para inserir uma abordagem diferente e que interessasse aos públicos alvo. Ela dialoga com muitas faixas etárias e a seleção de Christopher para ficar a frente do projeto, foi providencial, porque ele tem características autorais marcantes e há quem odeie seus métodos ou ame. Ele é o tipo de Diretor que gosta de tudo bem explicado, então além de mostrar com a câmera, também quer explicar com falas.
Essa abordagem para os filmes do Cavaleiro das Trevas foi extremamente importante, pois quando você tem a intenção de fazer o seu público variado entender uma situação dita como complexa, estabelecer a combinação de linguagens torna o processo lúdico.
Além da linguagem posta, o enredo presente (focando na construção humana antes do desenvolvimento do herói) serviu de carro chefe para muitas produções que vieram em sequência, como é o caso do filme “Watchmen (2009)”.
Até hoje, por muitos, é vista como uma das melhores trilogias de herói já feita.
Por
Juliano Ferreira