O pantanal está pegando fogo. Já são mais de 20 mil quilômetros quadrados de área queimada, e os incêndios continuam destruindo esta que é a maior área úmida continental do mundo. Isso mesmo que você ouviu: a maior área úmida do mundo está sendo destruida.. pelas chamas.
O pantanal é uma região natural com área total estimada de aproximadamente 195 mil quilometros quadrados, e abrange os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul no Brasil, além de se estender também para a Bolívia e Paraguai. Isso significa que mais de 10% de toda a sua extensão já foi consumida pelas chamas, e as perspectivas são bem ruins.
Ao contrário da Amazônia, o Pantanal pode ter incêndios naturais. Muitas das suas espécies vegetais estão adaptadas ao calor, com folhas mais espessas e sementes que precisam das chamas para germinar. Os campos formados por gramíneas, plantas da famílía das gramas e capins, favorecem o processo de combustão expontânea, que são muitas vezes desencadeados por raios. Porém, o aumento de 248% dos focos de calor na região nos últimos meses não é, nem de longe, um processo natural.
Os incêndios naturais são associados aos períodos de chuva – justamente por terem relação com a queda de raios, uma vez que essas descargas elétricas são acompanhadas por gotículas de chuva. Desta forma, com a umidade alta, os incendios naturais se propagam lentamente e apagam naturalmente.
Acontece que o pantanal está enfrentando a pior seca dos últimos 47 anos. Houve uma redução de 50% no volume de chuva neste ano em relação ao ano passado, e o nível do rio Paraguai, o principal formador do Pantanal, chegou à menor marca registrada em cinco décadas. Desta forma, o incêndio que estamos vivenciando hoje tem uma única causa: a ação humana. A prática de atear fogo para limpar áreas de roças e pastagens é muito comum não só no Pantanal, mas também no Cerrado e na Amazônia – e foi apontada como uma das causas dos incêndios que atingiram a Amazônia no ano passado. Durante o período de seca, esta prática é extremamente danosa ao meio ambiente, pois o controle do fogo se torna praticamente impossível. Desta forma, duas medidas entraram em vigor para proibir a prática: o decreto estadual no Mato Grosso que torna a prática ilegal desde 1º de julho e a moratória federal contra o fogo na Amazônia e Pantanal, de 16 de julho.
Apesar disso, o fogo continua firme e forte, ameaçando a integridade dessa região natural tão rica e biodiversa. São quase duas mil espécies de plantas e mais de mil espécies de animais vertebrados, além de uma diversidade incontável de animais invertebrados. Para além da biodiversidade, a região é lar de uma comunidade tradicional diversa, que abrange indígenas, quilombolas, coletores de iscas ao longo do rio Paraguai, entre outras. Essa riqueza indescritível está ameaçada pelo fogo. Muitos animais estão morrendo queimados, alguns sendo resgatados com muitas queimaduras e debilitados. Os animais que conseguiram fugir dos incêndios se concentram agora ao redor das poucas poças de água que restaram. Muitos estão morrendo de fome. A maioria das planícies que outros anos estariam inundadas já não tem água alguma.
Nesta seca tão dura, as planícies, outrora alagadas, estão completamente sem água e já não servem mais como barreiras naturais para impedir que o fogo se alastre. Então, o fogo “pula”, como dizem os moradores locais, devorando áreas cada vez maiores.
Estamos vivendo uma tragédia sem precedentes. A ajuda que chegou não é suficiente. O número de homens do corpo de bombeiros está longe do necessário. Os donos de pousadas arriscam suas próprias vidas tentando apagar o fogo. São poucas dezenas de pessoas, quando seriam necessários milhares, para enfrentar as chamas no braço, sobre o chão de brasas. Sem elas, não sobraria o pouco verde que abriga o que ainda resta da vida pantaneira.
Precisamos refletir sobre nosso impacto no mundo. Nós exploramos o ambiente como se não houvesse amanhã, destruímos florestas, queimamos paisagens, levamos a nossa biodiversidade à extinção. A sociedade em que vivemos é movida pelo consumo, pela extração de recursos naturais a nosso bel prazer. Mas os recursos não estão lá para nos servir. Nós não estamos acima da natureza – nós somos parte dela. Precisamos aprender com os povos originários a coexistir com o meio ambiente, e não explora-lo até a última gota. Pois se continuarmos desse jeito, em breve não teremos mais volta, e não teremos mais o que proteger. Ai, será tarde demais.
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