Ao ver “O Jeremias”, filme mexicano de 2018, não se pode deixar de se encantar pela proposta. O tema é trazer à luz a questão da superdotação (altas habilidades) de uma forma leve mas engajada. Muitos deverão criticar cinematograficamente o que verão, mas não me importo. Outros poderão criticar pedagogica e psicologicamente a visão do diretor Anwar Safa, mas não me importo. Pretendo ouvir as possibilidades das mensagens dadas pela história contada, a essas pessoas que apresentam a sua especialidade e tanto sofrem com isso.
Jeremias tem um QI de 160, comparável ao de Einsten. Seus pais têm QI normal ou até um pouco abaixo do normal mas geraram essa criança de 8 anos especialíssima! Jeremias procura descobrir o que vai ser quando crescer, o que fazer com sua genialidade. Ao cogitar possibilidades, passa a colar fotos na parede de seu quarto. Fotos de altas habilidades celebrizados como Jim Morison, Bob Fischer, Marie Curie… flerta até com a maçã envenenada de Alan Turing: depressão, de um gênio incompreendido!
A incompreensão da escola está lá. Uma educação que não reconhece as habilidades diferenciadas do aluno e até zomba delas. Jeremias precisa dizer à professora que ter altas habilidades não é saber de tudo – ele é um gênio, e não um adivinho. A escola tem sua importância, avisa Jeremias!
Mas segue a dúvida existencial do pequeno Jeremias: o que fazer? Xadrez? Música? Hacker? Medicina?
O pesquisador na área dos superdotados está representado mas parece preocupado com lucros e prestígio do que com conhecimento. A neurociência procura insistentemente uma resposta objetiva para a identificação dessas pessoas, mas deve ser mais uma daquelas partes que Edgar Morin chama de o “resíduo inexplicável” pela ciência.
Diante de tantos contratempos, Jeremias percebe que a pergunta a ser feita não é “o que eu vou ser” e sim “quem eu sou agora”.
E sob ares de normalidade, percebe que sua excepcionalidade não o impede de ser como os outros, de jogar bola com crianças de qualquer QI, de viver aquilo que se é, aceitando a diversidade e a neurodiversidade. Superdotação não é algo que desumaniza, não é algo que isola, não é algo de exclui. Pelo contrário. É por essa humanização que o filme de Jeremias é importante. Apenas Jeremias!