São incontáveis os recursos nos quais os roteiristas se apoiam para desenvolver suas narrativas. Alguns se destacam como carros chefes e no meio desse grupo está a Jornada do Herói. Vamos entendê-la!
O cinema tem o potencial de fundir o que melhor se constrói nas outras artes. O processo de relação com a literatura se torna intenso, no que diz respeito à fomentação de um roteiro. Temos grandes influenciadores que colaboraram bastante com a evolução e entendimento da escrita cinematográfica.
Joseph Campbell, um professor universitário e mitologista do século 20, percebeu as semelhanças presentes em praticamente todas as histórias que tratavam de temas míticos e fantasiosos. Ele se aprofundou no estudo de que se “dissecarmos” os enredos dos livros, encontraremos um padrão que liga o protagonista (herói) às etapas de provações experienciadas pelo mesmo. Formalizando os resultados de sua pesquisa, Campbell relatou a utilização de 12 etapas na “Jornada do herói mitológico”.
1. O mundo comum
Fase em que conhecemos o ambiente inicial, geralmente para entender o cotidiano do nosso personagem. São estabelecidas algumas características que serão exploradas nos passos seguintes.
2. Chamado à aventura
Surge o primeiro contato com algo que sai do cotidiano. É um convite da situação que precisa da atenção do nosso protagonista.
3. Recusa do chamado
O medo de deixar sua vida cotidiana e entrar em novo desafio, faz com que o herói recuse o chamado.
4. Encontro com o mentor
O mentor pode ter várias representações física e espiritual. Ele tem a função de treinar e guiar o protagonista até certo ponto da narrativa. O encontro geralmente é um tanto quanto conturbado, já que toma um tempo até o herói aceitar os métodos de seus ensinamentos.
5. Travessia no primeiro limiar
Limiar significa fronteira, limite. Esse momento marca o primeiro ponto de virada da história, quer dizer que dali para frente a narrativa vai decolar, pois os objetivos estão tomando o caminho da concretude.
6. Testes, aliados e inimigos
Essa fase, talvez seja a que mais se repita durante o processo narrativo, pois aborda os desafios variados que estarão no caminho do herói. Isso faz com que ele se fortaleça na trilha.
7. Aproximação da caverna oculta
A sétima etapa sinaliza o segundo ponto de virada do conto. Após enfrente um caminhada intensa, repleta de contratempos, chegamos ao objeto da busca. Toda a preparação entre herói e mentor foi para este momento, onde se situa o perigo supremo a ser batido.
8. A provação suprema
É o momento em que o protagonista encara a situação de morte ou quase morte, ressurgindo (metaforicamente ou literalmente) em seguida, portando equilíbrio e força maior.
9. Recompensa
Após ganhar a batalha travada com seu maior desafio, até então, o herói se apossa do seu objetivo interessado desde o início de sua caminhada.
10. Caminho de volta
O terceiro ato começa nessa fase. O herói ainda está no ambiente da aventura, decidindo retornar ao mundo comum, mas seus inimigos tornam essa volta bem complicada.
11. Ressureição
Trazendo uma intensidade maior que a fase 8 (A provação suprema), a décima primeira vai encorpar ainda mais nosso herói, pois o perigo maior será combatido e para além disso, teremos mudanças definitivas na personalidade do protagonista, advindas de sua vivência no mundo da aventura. O procedimento vai culminar no renascimento do indivíduo.
12. Retorno com o Elixir
É a etapa derradeira da jornada. Nela é conquistado o que era necessário para o protagonista amadurecer com êxito e fazer a diferença no mundo comum ao qual pertence. Seu retorno é o ponto alto.
A jornada no cinema
Os passos listados acima podem ter variações de acordo com a necessidade do roteirista. No cinema é utilizada a adaptação dessa estrutura feita pelo escritor Christopher Vogler, que escreveu o livro envolvendo a mesma temática “A jornada do escritor: Estrutura Mítica para Escritores”.