É normal se sentir meio perdido no final de um doutorado. A gente vê o final dos quatro anos chegando e começa a se sentir apreensivo porque, com o fim do curso, geralmente vem o fim da bolsa também. E aí vem o maior medo: ficar desempregado. Geralmente nós entramos nele pensando em seguir a carreira acadêmica. Esse é considerado o fluxo normal das coisas. Graduação -> Mestrado -> Doutorado -> Pós-doutorado (às vezes) -> Aprovação em um concurso para professor.
Entretanto, nem sempre as coisas se desenrolam dessa forma. Muitas pessoas podem perceber, durante o doutorado, que não gostam tanto assim de ensinar, por exemplo, ou do ambiente da academia. Outra questão importante é a relação “número de vagas para professores na universidade pública”/ “número de alunos egressos de cursos de doutorado”. Atualmente, o número de vagas se torna ainda menor pois vemos redução na oferta de concursos públicos. Essa conta definitivamente não fecha, então é necessário saber que muitos doutores terão que se empregar fora da Academia.
Por isso, cada dia é mais necessário se adaptar e ser resiliente. Você tem que pensar: quais habilidades eu adquiri com o doutorado e como elas podem ser úteis na vida após defesa? Doutores, além de possuírem muito conhecimento sobre determinado(s) tema, tendem a desenvolver habilidades de organização, liderança e pensamento crítico. Além disso, o doutorado nos ensina a agir sob pressão e a lidar com as falhas nos processos, muito comuns no método científico, aprendendo com elas e sempre tentando novamente.
Pensando nisso, eu trouxe aqui embaixo algumas sugestões de carreira/atuação para fazer depois do doutorado:
– Você pode ser pesquisador (sem ser professor) em um instituto público ou privado de pesquisa.
– Você pode ser professor em uma universidade particular.
– Você pode usar o seu conhecimento para produzir e vender infoprodutos (curso online, e-book). Inclusive, dependendo do tema da sua tese, até mesmo a sua introdução/referencial teórico podem servir como fonte de conteúdo e roteiro para um curso online. Pense que com certeza alguém precisa daquele conhecimento que foi produzido no seu doutorado. Por que não vender ele de uma forma didática pra quem não é cientista (e pra quem é também)?
– Você pode ser professor particular. É possível ensinar alunos do ensino fundamental/médio. Mas você também pode ensinar matérias de nível universitário. Sempre existem alunos de graduação que tem dificuldades com determinadas disciplinas e pagariam por alguém que os ensinem de forma individualizada. Eu mesmo dei muitas aulas particulares de Química Orgânica (enquanto eu estava no doutorado) para alunos de graduação. Outro ponto positivo é que o valor da hora de um professor particular é muito maior do que em uma instituição de ensino.
– Você pode trabalhar como revisor/consultor na escrita de trabalhos acadêmicos e artigos de outras pessoas.
– Você pode trabalhar com divulgação científica e é possível monetizar isso se você correr atrás de patrocinadores e se você produzir um volume de conteúdo grande.
– Indústria: as vezes a gente tem aquele velho conceito de que, se você não começar a sua carreira na indústria desde cedo, nunca vai ter lugar para você lá. Mas isso já não é verdade. Muitas das características dos doutores que eu citei lá em cima são muito apreciadas na indústria. E existem pessoas que saem de um doutorado (ou de um pós-doutorado) e vão trabalhar na indústria. Qualquer área da indústria pode ser aplicável. Mas na Indústria Farmacêutica (e também outras como biotecnológica, de equipamentos, etc), por exemplo, existe um cargo que pode ser muito interessante para doutores. É o cargo de Medical Science Liaison (MSL). Esse é um cargo para pessoas com alto patamar científico, que farão a comunicação entre as indústrias e os médicos e profissionais de saúde.