O Recepcionista é mais um dos filmes da Netflix que é considerado um híbrido, envolvendo um combo de gêneros. Seu lançamento traz questões sobre temas diversos e vamos abordar seus pontos aqui.
Um pouco da história
Bart, recepcionista em um pequeno hotel, trabalha em horário fixo sem muita movimentação comercial, o que torna sua rotina tranquila para quem apresenta condições de interação social diferentes.
Após trocar de turno com um colega de trabalho, um crime acontece no hotel e Bart se vê no meio de uma investigação, carregando consigo algo que pode solucionar o crime.
O protagonista
É importante falarmos sobre a condição do personagem principal, pois é o que vai ditar sua relação com os demais.
Bart, como é citado durante o longa-metragem, é contemplante da Síndrome de Asperger, Transtorno de Neurodesenvolvimento. Esse transtorno faz com que a pessoa perceba o mundo e outros indivíduos de forma diferente, ressalto que não é uma doença, por tanto, não há cura. Os que carregam a condição, costumam ter um nível de inteligência elevado, apresentando um pouco de dificuldade quanto à interpretação do que é dito e a linguagem proposta em determinadas situações.
As referências
Durante o filme, nos deparamos com homenagens a outros títulos. O Diretor e Roteirista, Michael Cristofer parece ter um grande apreço pelo Mestre do Suspense, Hitchcock, pois seu roteiro em boa parte, faz alusão ao Psicose e Janela Indiscreta. Percebemos tal movimento, quando o protagonista observa tudo o que acontece de câmeras espalhadas pelos espaços e claro, na hora de realizar a montagem da cena do crime.
Ainda há outras obras que parecem ter emprestado um pouco de suas formas, como é o caso de Atividade Paranormal (2007) (Câmeras espalhas, possibilitando vermos praticamente tudo o que acontece) e O Abutre (2014) (O protagonista estando sempre no meio do caos).
Roteiro híbrido
Atualmente, devido às mudanças no cenário cinematográfico, é bem comum assistir obras que mesclam gêneros. Alguns casamentos são mais utilizados como Comédia e Romance, Drama e Suspense, Ação e Comédia… e por aí vai. Acontece que nem toda combinação dá certo, por atrapalhar o andamento dos conflitos iniciados.
Infelizmente a combinação entre Drama, Suspense e Romance não foi frutífera para “O Recepcionista”, que encontra dificuldades em seguir uma linha do Suspense que é interrompida pelo foco em excesso na condição social do protagonista e seu romance com Andrea.
A iniciativa de abordar um tema como Síndrome de Asperger é bom, porque é possível tocar mais pessoas sobre o assunto, já que estamos falando da Netflix, uma plataforma provida com milhões de usuários. Ter um protagonista nesta condição é interessante narrativamente falando, pois um recepcionista sempre está em contato com diversos tipos de pessoas e ilustrar as interações torna possível aparecer situações com boas dinâmicas.
A questão é que o filme é vendido como um forte suspense e entrega Drama romântico com suspense que não desperta grandes curiosidades. Chega um ponto em que o Roteiro abandona o crime (Fato extremamente divulgado nas campanhas publicitárias) e foca na paixão de Bart e a sensação de perigo desaparece quase por completo.
Michael ainda tenta ressuscitar o suspense do caso, trazendo o policial investigador em alguns momentos, assim como a mãe do protagonista, mas não consegue recuperar o clima, tornando a mistura híbrida um fracasso.
Vale a pena assistir?
Infelizmente há mais pontos negativos do que positivos. Apesar de no elenco ter a belíssima Ana de Armas, sua presença não foi suficiente para mascarar a falta de continuidade nos conflitos inaugurados.
Começa bem, montando o suspense e quando entra no segundo ato, já não entendemos as funções dos personagens, suas motivações e o pior, o vilão literalmente deixa de existir. Bart não enfrenta situações de provação, que comprovem a evolução do personagem ao fim do enredo.
Confesso que “O Recepcionista” não está na minha lista prioritária de recomendações.