Paulo Humaitá é fundador e CEO da Bluefields Aceleradora, com mais de 250 startups aceleradas desde 2017. Ele começou sua carreira com 17 anos, incubando empresas de tecnologia, antes de ser contratado como CFO de startups.
Paulo Humaitá já trabalhou em multinacionais como a Novozymes, líder global em biotecnologia, mas antes disso ele se formou em Economia, com especialização em estratégia e mestrado em desenvolvimento de novos negócios, além de se aventurar em programação e ciência de dados.
1. Qual é sua lembrança mais antiga da internet e quais foram os primeiros sites que você visitou e programas de computador você usou? Como você avalia a internet daquela época para aquela que existe hoje?
Me lembro de uma aula na escola onde aprendemos a ligar o PC. Era primeiro o estabilizador, depois a CPU, seguida do monitor e daí fui aprendendo os primeiros comandos para instalar programas no MS-DOS. Passava horas jogando Elifoot com os amigos da escola e teclando no MSN, ICQ e depois socializando no Orkut, além de pesquisas trabalhos escolares prontos no Zé Moleza.
Acho que a internet é a mesma coisa de antes, só que muito mais veloz, bonita e com mais conteúdo e opções. Além, é claro, de existir mais ferramentas que usamos, como por exemplo para trabalhar melhor e viver mais eficientemente. Sei que sou um early-adopter da internet, pois faço parte da última geração de pessoas que sabe como o mundo funcionava antes da internet.
2. Quais foram as influências do passado que te direcionaram para a sua área de atuação e porque você começou a levar sua profissão a sério e o que significa ser EMPREENDEDOR pra você?
Decidi ser voluntário na incubadora depois de perguntar em entrevistas de estágio sobre o plano de carreira e ninguém me dar uma boa resposta. Eu levava muito a sério isso porque acreditava que a empresa deveria ter um plano pra mim.
Depois de um tempo escrevi meu próprio plano de carreira. Um documento com mais de 10 páginas com gráficos, autoavaliações, líderes que me inspiravam, minhas motivações e objetivos de curto, médio e longo prazos, inclusive para depois de aposentado – e olha que eu revisava isso a cada três meses e anotava todas as alterações. Eu sempre tive uma vontade fervorosa de ser um cidadão global, por isso um passo planejado foi migrar para uma multinacional que me desse a oportunidade de trabalhar e liderar times globais. E o plano de carreira funcionou!
Até que em 2014 algo diferente aconteceu. Eu cresci indo na igreja e achava que a minha missão de vida era ganhar dinheiro para doar para os projetos. Mas em um evento nos EUA entendi que existe algo mais que isso e que eu não deveria simplesmente terceirizar minha missão, mas também fazer a minha parte.
Com essa nova compreensão, fiz uma oração entregando a Deus tudo o que eu havia planejado. Pois se Ele existe e é dono de tudo, Ele é dono da minha carreira também. Ou seja, minha carreira não é de uma empresa e a minha carreira não é minha. Esse processo todo foi exatamente o que me levou a conhecer a minha melhor amiga, que se tornou a mulher da minha vida, com a qual estou esperando nosso primeiro filho, e também fundar uma aceleradora de startups, a Bluefields, com o propósito de servir outros empreendedores.
3. Quando você começou a ter contato com o mundo das startups e em que momento surgiu a Bluefields?
Mas comecei aos 17 anos como voluntário na Empresa Júnior de Economia da Universidade Estadual de Londrina (UEL), que ficava na incubadora de empresas de base tecnológica, onde aprendi boa parte do que sei em 3 anos ajudando empreendedores de tecnologia antes de ser contratado como CFO de startups.
Na época, não tinha o termo ‘startups’ mas entrei no ecossistema logo nos primórdios. Lembro de escrever o plano de negócio da UsoSim, uma das primeiras startups do mundo com foco em usabilidade de sistemas – isso em 2005. Depois fui trabalhar em multinacionais e cheguei longe.
Conquistei a proposta dos meus sonhos de ser expatriado para viver fora e ganhar em dólares. Mas algo maior me fez declinar essa proposta para continuar no Brasil. Acredito que estou cumprindo um chamado para ficar, para deixar um legado para as próximas gerações.
Quando resolvi rejeitar a proposta dos meus sonhos para permanecer no Brasil, fui trabalhar com desenvolvimento de negócios no setor de biocombustíveis e pude me reconectar com o ecossistema de startups. Foi então que senti o desejo de colaborar mais – e de novo – com os empreendedores. E assim se iniciava a Bluefields Aceleradora.
4. Qual é a vantagem para um startup de participar de um processo de aceleração ao invés de crescer organicamente?
Uma coisa não elimina a outra. A startup pode crescer organicamente e ainda assim participar de um programa de aceleração. Muitos programas de aceleração ao redor do mundo são mais baseados em relacionamento do que em investimento direto.
O acesso ao capital, a rede de conexões, ferramentas e metodologias diferenciadas, além de benefícios econômicos, são ótimas vantagens. Até porque muitas startups que recebem um investimento direto acabam não aplicando bem porque não sabem o que fazer com o dinheiro. Inclusive essa é uma dor de fundos de VC, que não conseguem acompanhar os processos de tomada de decisão das startups, especialmente os que estão no early-stage pois tem um portfólio muito grande.
5. Quais são os principais elementos que fazem de uma startup um sucesso? O que não pode faltar no time que a compõe?
Uma startup de sucesso precisa de um time cheio de propósito! Aqui na Bluefields encorajamos você a não empreender por necessidade, nem por oportunidade, mas empreender por uma razão maior. Empreender uma startup é uma das coisas mais difíceis que alguém pode fazer na vida. Aqui temos a convicção de que ajudar a construir startups unicórnios é muito pouco pra nós.
Outro elemento que vejo em startups de sucesso é saber equilibrar a teimosia com educabilidade. Em outras palavras, ir contra a opinião dos outros nos momentos certos, buscar o que você acredita, mas ao mesmo tempo transformar uma escuta ativa em aprendizado e ação. Este é o perfil empreendedor que melhor sabe aproveitar um programa de aceleração e enxerga claramente o antes e depois do processo.
6. Porque a ciência de dados é tão importante na área que você atua e quais são os benefícios dela se aplicada corretamente em jovens startups?
Essa semana finalizamos a estratégia da Bluefields para os próximos 3 anos e só na parte de dados e análises foram quase 80 slides, fora anotações e outras análises colaborativas.
Aqui medimos tudo o que é possível, inclusive cultura do nosso time e métricas internas, bem como as startups entram e saem dos programas. Aprendi muito em finanças sobre isso.
Tive uma vice-presidente que me dizia sempre: “you have to see what’s behind the numbers”. Números são números. Mas a ciência de dados nos ajuda a organizar, categorizar, filtrar, etc para que a gente consiga entender o que aquelas números querem nos dizer.
7. Como você avalia o potencial do interior de São Paulo como grande polo de statups no Brasil e porque, nesse contexto, São José dos Campos é importante?
No início de 2022 a gente fez uma lista de tendências e uma delas tem se concretizado muito: a interiorização do ecossistema brasileiro de startups. Coincidentemente, o interior de São Paulo está na nossa estratégia para os próximos anos.
São muitas cidades e regiões se movimentando para criação de ecossistemas de inovação. Isso ficou evidente na nossa história em 2019, quando ajudamos a criar e executamos o DTX – maior programa de inovação aberta já feito no Brasil, que contou com 15 grandes empresas e 7 startups de Marília e região.
Em 2023, vamos adotar o modelo semi-remoto, o que significa que trabalhamos a maior parte do tempo remotamente e nos encontramos intencionalmente em algumas ocasiões, como por exemplo para comemorar os resultados do trimestre que passou e planejar as OKRs do próximo.
Atualmente, metade do nosso time está em São José dos Campos e a outra metade em São Paulo capital. Quando vim de mudança aqui pra Sanja, eu e a minha família fomos bem recebidos, uma cidade cheia de pessoas com ideias inovadoras, com vocação para pensar diferente e sede do principal parque tecnológico do país, além de uma localização estratégica.
Sem dúvidas SJC já está no mapa da inovação do nosso ecossistema e serve de exemplo para tantos outros ecossistemas nascentes.
8. Quais eventos (boot camp, pitch day, etc) são importantes para os empreendedores participarem e porque?
Bootcamps são excelentes caso você tenha uma necessidade pontual. Por exemplo: preciso rodar meu MVP ou implantar uma gestão financeira com foco em startups ou ainda melhorar a gestão de resultado com mais agilidade.
Aqui na Bluefields a gente consegue ofertar os bootcamps da aceleração separadamente, de acordo com a necessidade do empreendedor. Mesmo assim, há muitas outras vantagens em participar de um programa de aceleração inteiro, até mesmo pela quantidade incrível de excelentes conexões e trocas com pessoas que estão empreendendo no mesmo estágio que você. Já eventos como Pitch Day, onde startups lançam suas ideias ao mundo pela primeira vez, são fantásticos para networking e acesso a investidores. Já vi startup que a gente acelerou conseguindo 300 mil Reais só de se conectar com o investidor no Pitch Day.
Recentemente também temos organizado eventos presenciais da BlueSpace, nossa comunidade digital e gratuita, com muita troca de conhecimento e conexões.
9. Quem são suas principais inspirações e o que você diria para que está pensando em começar a atuar no seu nicho?
A maior inspiração da minha vida é o maior empreendedor de todos os tempos, que pivotou a sua vida para que eu pudesse viver, que disruptou o ganha-ganha, perdendo intencionalmente para que eu pudesse ganhar desmerecidamente.
Que escalou seu empreendimento de 12 para bilhões de seguidores, nos últimos 2.000 anos, trabalhando no modelo remoto. Para mim, só podemos inovar porque somos a única espécie criada à imagem e semelhança de um Deus criador. Por isso criamos! Música, arte, design, pitch deck, modelo de negócio.
Nenhuma outra espécie tem essa capacidade. A única coisa que posso dizer para quem quer empreender é: siga-o. Pois com Jesus no barco tudo vai muito bem, mesmo se sua startup passar por um temporal ou fracassar.