Assistindo um filme búlgaro, uma cena com três amigos, jovens adultos, um deles dispara em um papo existencial: “uma vez li uma definição para perdedor: alguém nascido na Bulgária”. Trata-se de “Perdedores”, representante da Bulgária no Oscar de 2016. Permitam-me uma reflexão para a frase do jovem. Eu diria: “Не, приятелю. Това не е добро определение!” (Não, meu amigo. Não se trata de uma boa definição!)
Perder faz necessária parte de um processo que exige uma vitória, no caso, do outro. Assim, é por exemplo, no esporte. Práticas competitivas são frequentes na espécie humana, a maior parte delas, totalmente inventadas. Inventadas mas de consequências muito reais. Por mais que muitos não concordem, há uma biologia por trás da competitividade – antes, durante e… depois.
Perder faz tanto parte da vida que prefiro sugerir uma mudança de nome: em vez de “perdedor” substituir por “em situação de perda”. Não é só um jogo de palavras. “Perdedor” é como uma sentença, “em situação de perda” revela transitoriedade. Essa abordagem pode ser muito mais poderosa do que imaginam, porque gera uma nova organização do pensamento e isso é muito importante. Sentimentos e pensamentos negativos são armadilhas perigosas para o momento e para o futuro. Hormônios são feitos em função disso, agem de maneira aumentada em certas áreas do corpo, particularmente no sistema nervoso. Um cérebro em permanente desânimo se reorganiza funcionalmente e pode ocasionar problemas futuros mais duradouros, de difícil tratamento.
Em sala de aula, por exemplo, a ação de um professor ou professora sobre um estudante afirmando que ele é um “perdedor”, de que não adianta “ensiná-lo” é muito mais que desastroso, ainda mais para um cérebro em construção – no caso de crianças e adolescentes. No esporte, a mídia descompromissada e seus maus jornalistas fazem ataques insanos aos “perdedores”. É inaceitável!
A situação de perda ocorre com todos: búlgaros, portugueses, holandeses, japoneses, senegaleses, brasileiros, professores, comentaristas. Precisamos encará-la como uma situação e não como um definição. E seguir, em frente!