Sinopse: As consequências de uma tragédia ocorrida por um parto em casa aterroriza a vida dos pais.
Faça um apanhado de todo drama de Manchester à Beira Mar, História de Um Casamento e Se Algo Acontecer Te Amo, e temos esse filme, sim, um soco no estômago, mas ótimo.
O primeiro ato, que envolve a cena do parto, é um dos mais impactantes que eu já vi em anos. Kornél Mundruczó faz o melhor trabalho de direção de 2020, tudo é conduzido de uma forma que te coloca lá com aquelas pessoas e o fato dela ser feita sem cortes, aumenta mais ainda o nível de tensão do momento, é possível ver o pai correndo de um lado para o outro, a mãe desesperada e a parteira tentando administrar a situação, tudo com uma veracidade incrível, cenas desse tipo possuem um alto grau de dificuldade, mas dá certo pelo nível de comprometimento de todos os profissionais envolvidos.
O segundo ato lembra “O Quarto de Jack”, no sentido de trabalhar o pós trauma e diferente do que muita gente disse, não acho que a obra deixa o nível cair, a lentidão desse segmento é justificado, pois o filme precisava desse respiro, depois de uma cena tão desconfortante, o problema maior está no raso desenvolvimento de alguns temas, as subtramas são jogadas, questões como: infidelidade, traumas de guerra e doação de corpo para estudos anatômicos, não possuem conclusão clara, porém esse segmento nos comove pelo nível de realismo das cenas, os diálogos são duros e verdadeiros, a trilha sonora é inquietante e o designer de produção contextualiza o “despedaçamento” da personagem principal, como diz o título, que em sua tradução aproximada significa “Pedaços de Uma Mulher”.
O terceiro entra no território de drama de tribunal que é bem construído e são responsáveis por cenas emocionantes e o último take, tenta alimentar o sentimento de recompensa do telespectador, mas é difícil, pois depois de duas horas de surra emocional, o filme não te traz alívio, no máximo um sentimento agridoce.
Será difícil alguém tirar o Óscar de Vanessa Kirby, ela brilha fazendo uma personagem que tenta ser forte, mas que mostra em olhares e pequenos gestos, todo o seu desamparo, ela não precisa gritar nem se descabelar para transparecer seus sentimentos e quando ela finalmente põe tudo que sente para fora é impossível não se emocionar. Já o personagem de Shia Labeouf extravasa mais suas emoções, o ator faz um homem instável e temperamental, que também tem um forte declínio após o trauma. Ellen Burstyn, mesmo em um papel pequeno, tem bastante relevância para história, há aspectos de vilã na sua persona, porém é difícil sentir raiva, pois a atriz consegue passar que no fundo sua personagem é só uma pessoa frágil e carentes, além disso ela reproduz um monólogo que provavelmente lhe vai render uma indicação ao Óscar de Melhor Atriz Coadjuvante.
Pieces of a Woman, não é para todo mundo, mas é um fortíssimo drama sobre perda e luto.