Em 1900, as meninas menstruavam pela primeira vez em torno de 17 anos de idade. Hoje, a média está abaixo dos 13 anos de idade. A puberdade está vindo mais cedo. Embora alguns associem essa mudança à erotização proporcionada pelos programas de televisão e pela internet, ou à emancipação das gerações mais recentes (a modernidade!), ou ainda à poluição (como lançamento de desreguladores hormonais na água), as explicações melhores parecem ser outras. Duas delas parecem responder mais diretamente esta questão: a mudanças da dieta e o aumento do IMC. Mas primeiro, vejamos o que é puberdade.
A palavra surge do latim púbis que significa “pelo, penugem”. O termo sugere o aparecimento de pelos pelo corpo como fator de início do período. As mudanças decorrem da ação de uma glândula na base do crânio, do tamanho de uma ervilha: a hipófise ou pituitária.
Um dos fatores considerados como determinantes para as mudanças hormonais e essa antecipação de puberdade é a alimentação. Uma dieta rica e diversificada trouxe mais saúde, mais defesas celulares e permitiu um corpo preparado mais rápido. Outro fator que as pesquisas apontam como promovedor da puberdade precoce é o IMC – índice de massa corporal – aumentado. Esse índice é a razão entre a massa e o quadrado da altura. Quanto mais massa, especialmente de gordura, mais hormônios sexuais são feitos (como estrógeno e progesterona) . Assim, quanto maior o IMC, mais cedo a menstruação vem.
Com a precocidade fisiológica, os hormônios aumentam e o interesse sexual sobrevém naturalmente. Os meninos iniciam a atividade sexual, em média, entre os 14 e 15 anos. As meninas, em média, entre 15 e 16 anos. Aqui existe um dado interessante: quanto menos anos de escolaridade, menor é a idade de iniciação da atividade sexual (educação é importante!). Com relações sexuais mais precoces, outras questões são trazidas: por exemplo, as chances de engravidar naturalmente aumentam. Além da gravidez precoce, a incidência de ISTs (infecções sexualmente transmissíveis) também aumenta. Outros desdobramentos têm sido associados à precocidade da puberdade, especialmente a feminina, como: maiores probabilidades de diabetes tipo 2, obesidade, depressão e ansiedade. Pesquisas também apontaram que a menstruação precoce aumenta as chances de câncer de mama.
A boa notícia é a de que esse fenômeno não deve se estender mais, ou seja, a idade da puberdade não deve ficar ainda mais baixa nos próximos anos. Parece que existe uma espécie de “mínimo biológico” a partir do qual nenhum fator externo seria capaz de alterar.
A evolução dos tempos traz em si esse paradoxo: mais nutrição, menos saúde? É a socialização de progressos e a socialização de riscos. Bem-vindos à modernidade.