O Oscar, premiação anual mais aguardada do cinema, definitivamente, não preza pela meritocracia! Não tenho o intento de adentrar, nesse momento, nos elementos justificadores dos inúmeros menoscabos já praticados na história desse pomposo evento, mas tão somente relembrar alguns injustiçados.
Deve ser nada fácil escolher o vencedor entre tantas obras de extrema qualidade, mas em alguns casos o menosprezo por alguns filmes aperta o coração e dói na alma de qualquer cinéfilo.
Trarei alguns exemplos marcantes das últimas 5 décadas.
Começarei com o talentoso realizador Martin Scorsese, o cineasta que já sinalizou na imprensa que conhece bem “o que é cinema”.
O drama “Taxi Driver” (1976) do Scorsese foi indicado nas categorias Melhor Filme, Melhor Ator (Robert De Niro), Melhor Atriz Coadjuvante (Jodie Foster) e Melhor Trilha Sonora (Bernard Hermann – o responsável pela aterrorizante música de “Psicose” [1960] do Hitchcock). Saiu, infelizmente, de mãos abanando! Considerada uma das maiores injustiças da premiação, perdeu a cobiçada categoria Melhor Filme para “Rocky” (1976), dirigido pelo John G. Avildsen e escrito pelo protagonista Sylvester Stallone.
Scorsese parece que não tem sorte. A obra de ação “Gangues de Nova York” (2002) teve 10 (dez) indicações, incluindo Melhor Filme, Melhor Ator (Daniel Day-Lewis), Melhor Roteiro Original e Melhor Diretor. Mais uma vez, nada! O campeão da noite foi o musical “Chicago” (2002).
Com a comédia “O Lobo de Wall Street” (2013) foram 5 (cinco) nomeações: Melhor Filme, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Ator (Leonardo Di Caprio), Melhor Ator Coadjuvante (Jonah Hill) e Melhor Diretor. Sem êxito algum, de novo! O drama racial “12 Anos de Escravidão” (2013) venceu a cerimônia.
Mais recentemente, na última premiação realizada em 2020, “O Irlandês” (2019), apesar de suas 9 (nove) indicações, foi desbancado pelo sul-coreano “Parasita” (2019).
Mas o cinema, como sabemos, não se resume ao Scorsese, nem tão pouco aos conceitos dele. Não é mesmo, Mr. Scorsese? Vejamos outros preteridos.
Voltando no tempo e viajando diretamente para a década de oitenta, encontraremos uma injustiça colossal com o talentosíssimo realizador Steven Spielberg. “A Cor Púrpura” (1985), baseado no livro homônimo da Alice Walker vencedor do Pulitzer, foi indicado a 11 (onze) estatuetas! O filme é extraordinário, um dos melhores já dirigidos pelo Spielberg! Drama intenso, questões profundas, abordagem racial impactante e visceral! O elenco impressiona, sobretudo a magnífica Whoopi Goldberg! Ela, por óbvio, concorreu ao Oscar na categoria Melhor Atriz. Não ganhou. Ninguém dessa fantástica obra ganhou! O vencedor da noite, com 7 (sete) prêmios, foi o insosso e enfadonho drama romântico “Entre Dois Amores” (1985), dirigido pelo Sidney Pollack e protagonizado pela Meryl Streep e pelo Robert Redford. Injusto, muito injusto!
Na década de noventa, um dos melhores, mais emocionantes e mais envolventes filmes da história da sétima arte, irretocável em todos os aspectos, com nota 9.3 no site IMDb (Internet Movie Database), concorreu a 7 (sete) Oscars em 1995 e nada levou! Foi o “Um Sonho de Liberdade” (1994), dirigido pelo Frank Darabont e baseado numa obra literária do Stephen King. Cinco anos depois, a mesma dupla (Darabont e King), com “À Espera de Um Milagre” (1999) foi nomeada a 4 estatuetas e, de igual sorte, ficou a ver navios! Lastimável!
É isso! Muito glamour, holofotes, vestidos de grife, ternos elegantes e quase nada de meritocracia. É o Oscar da política, da bajulação e outras coisinhas que merecem destaque num possível texto futuro.