É um documentário dirigido, roteirizado e produzido pela cineasta Lúcia Murat. O tema central é com foco em escutar os relatos de mulheres que passaram por diversas situações entre as décadas de 1960 e 1980.
A ideia
O objetivo deste documentário fica claro quando se estuda a vivência da realizadora do projeto. Lúcia foi integrante da Luta Armada contra a Ditadura Militar no Brasil, assim como as entrevistadas, passou por tortura quando presa.
A montagem é bem feita, encaixando a trilha sonora com as imagens e o roteiro escrito de forma interessante. A performance de Irene Ravache está condizente e chama o espectador preparando-o para o assunto seguinte, atuação respeitosa fornecendo críticas sobre o olhar de quem não viveu a parte pesada da Ditadura.
A verdade é que é complicado falar sobre esse documentário, porque ele é para um público específico, apesar de haver uma tentativa de criar uma empatia com o espectador masculino, trazendo até presenças durante a execução, é muito mais sobre o sentimento feminino para mulheres. Não vejo como ponto negativo, muito pelo contrário, um grupo tem que ter meios para conversar com caráter exclusivo, é uma forma válida no que diz respeito à fortalecer classe e gênero.
Pode parecer arrogância minha, mas poucos momentos me tocaram, senti mais próximo do monólogo do que os depoimentos em si, a parte teatral chuta a quarta parede e me puxa, o restante é um conjunto de depoimentos que talvez eu tenha estudado em livros de história, documentários e outros.
Os temas fortes
A Ditadura foi um período forte em vários aspectos e a questão das torturas chegou a diversos grupos. É sempre angustiante escutar falar sobre, respeito a pessoa que faz esforço em relembrar o que aconteceu. Estamos vivendo um momento político onde eu não sei o que vamos enfrentar, alguns ministérios já tem indicações militares, torço para que não haja nenhum retrocesso quanto a nossa liberdade.
Esse filme é de 1989, vai fazer 30 anos, não é distante do tempo em que vivemos, ele propõe reflexões satisfatórias que infelizmente somos obrigados a discuti-las década após década, porque o ser humano tem um poder de boicotar a própria espécie, é um fato que me entristece.
“Que bom te ver viva” é reflexivo, apresenta boa orientação por parte da Lúcia Murat, mas não é um documentário que eu indique para todos, ele tem uma linguagem mais familiarizada ao público feminino. Gostei dos aspectos técnicos. O título é muito interessante e pode trazer uma gama de significados.
Por
Juliano Ferreira