Sempre houve uma falácia impregnada em nossa sociedade que afirma que o aprendizado das mulheres em disciplinas das áreas de Ciências Exatas e Tecnológicas e, em destaque, está a Matemática, não pode ser comparado com o aprendizado dos homens. Digo falácia, porque poucas pesquisas sólidas foram desenvolvidas, focadas nesta área.
No sentido de contrapor esta falácia, diversos estudos sobre diferenças de gênero em habilidades Matemáticas tem sido desenvolvidos nesta área nos últimos tempos, conforme pode ser observado neste artigo do Fernando Lousada para a Revista e Educação, em 2018.
Diversos fatores biológicos foram investigados e verificou-se que o grande diferencial não está na questão do gênero, e sim na carga horária destinada ao treinamento do pensar Matemático durante os primeiros anos de vida. Neste sentido, de acordo com a Unesco, as adolescentes não buscam as Ciências Exatas na mesma proporção que os adolescentes e isto está comprovado num comportamento social de não adotar como hábito a inserção das mesmas em tais atividades desde as idades iniciais, apesar de o interesse das crianças pela área ser o mesmo, independente do sexo.
A sociedade adota um comportamento sexista e com estereótipos de gênero quando as crianças ainda estão em idade escolar, desmotivando as estudantes a insistirem com o treinamento do pensar Matemático. As poucas mulheres que, em vida adulta, compõem as estatísticas e escolhem as áreas de Ciências Exatas e Tecnológicas como profissão ainda enfrentam outro diferencial social que é um grande fator desmotivante: o preconceito. Ouvem em seu dia a dia comentários machistas e desmotivadores de colegas de trabalho e isso, muitas vezes reflete na forma como ela influencia e incentiva as mulheres de gerações futuras a até mesmo não optar pela área.
Conforme pode ser visto neste artigo de Diego Braga, da Revista Ensino Superior em 2018, este comportamento reflete ferozmente nas escolhas das mulheres em idade adulta. De fato, pois de acordo com a SBPC, apenas 15% dos estudantes matriculados em cursos de Ciências da Computação e Engenharias são mulheres. Quando se fala em produção científica a nível global, apenas 30% dos artigos produzidos na área são assinados por mulheres. Ao fazer um refinamento específico na área de Matemática, as estatísticas são ainda mais desanimadoras.
Um artigo publicado recentemente na revista PNAS mostra que esta realidade tem uma justificativa simples e dá esperanças de que definitivamente pode ser alterada. Ao analisar cerca de 300 mil estudantes de 15 anos em 64 países diferentes quanto ao desempenho na leitura e na Matemática, os pesquisadores mostraram que o desempenho é muito próximo na Matemática, independente do sexo. E na leitura, o desempenho chega a ser 80% melhor para as estudantes. Então a pesquisa conclui que este pode ser considerado um forte fator para que as mesmas escolham as áreas de Ciências Humanas para se profissionalizar.
Enquanto Matemática formada há 16 anos, docente em um Instituto de Engenharias há quase 10 anos, fico feliz em observar uma modesta evolução do número de mulheres nas salas de aula. E corroboro as conclusões das pesquisas quando informam que o desempenho dos estudantes pode ser o mesmo, independente do sexo. O que muda é a forma como o pensar Matemático está inserido na vida do estudante quando o mesmo ainda está em idade infantil e em como isso continua fazendo parte da vida do mesmo quando chega em idade adolescente e adulta. Ou seja, o maior fator desmotivante ainda é a sociedade.