A pandemia e as variações no câmbio do dólar afetaram a economia brasileira de uma maneira muito peculiar nos últimos meses. A tentativa de expansão do crédito – por parte do governo e das empresas – visa viabilizar a criação de novas oportunidades de negócios e geração de renda.
Nesse setor, a startup nacional BxBlue tem sido destaque porquanto, apenas em 2020, logrou crescimento de 20 vezes do seu valor de mercado e, em 2021, recebeu aporte de R$ 38 milhões na rodada de investimento. Criada em 2017 por Roberto Mascarenhas Braga, Fabrício Buzeto e Gustavo Gorenstein, essa “fintech” de crédito consignado foi concebida para atender servidores públicos federais, aposentados e pensionistas do INSS, mas atualmente ela vai muito além disso.
A startup atua como correspondente bancário para oferta de empréstimos com taxas diferenciadas, simplificando tanto a contratação do serviço quando a maneira de o consumidor entender suas obrigações. Observando que a BxBlue já gerou mais de R$ 500 milhões em empréstimos, chamamos um dos fundadores para uma conversa.
Gustavo Gorenstein, além de palestrante e consultor do Grupo Dínamo, é o multiempreendedor responsável por startups como Poup – comprada pelo grupo Digio – e Farm. Antes de voar com as próprias asas, ele trabalhou para The Coca-Cola Company por 6 anos e se graduou em Negócios pela Universidade de Pernambuco.
Seu mestrado em “Ciências, Empreendedorismo Tecnológico” pela UCL e seu MBA em Empreendedorismo pela London Business School o qualificaram para ser um dos empreendedores mais interessantes do Brasil. Confira a entrevista:
Um ponto importante para é que o Brasil é um país muito grande. O país está entre os top 5 em extensão territorial. Ou seja, os bancos não conseguiriam escalar e colocar agências em absolutamente todos os cantos do país.
Então, a figura do correspondente bancário surgiu nesse cenário, para representar as instituições financeiras. Os correspondentes bancários são contratados pelos bancos tradicionais para prestarem serviços de atendimento a clientes da instituição financeira contratante. O banco pode escolher, assim, quais serviços seus correspondentes irão oferecer dentre aqueles autorizados pelo Banco Central.
Podem ser serviços de recepção e encaminhamento de propostas de abertura de contas e de operações de crédito, pagamentos, serviços complementares de coleta de informações cadastrais e de documentação etc. Por ser um terceiro contratado, os serviços prestados por correspondentes bancários não podem se dar nas dependências do banco contratante.
Mas é bom registrar que o correspondente não pode efetuar qualquer cobrança do cliente por sua iniciativa.
- Qual é o papel da educação financeira para quem está pensando em ter acesso a um empréstimo? É muito diferente do tipo de informação que se precisa para começar a investir no mercado de ações? Em que medida?
Sim, os critérios e o planejamento são totalmente diferentes e as informações necessárias também.
Primeiro, vamos lembrar que investimento significa receber juros sobre o dinheiro investido; já qualquer operação de crédito (como empréstimo, financiamento etc.) é justamente o oposto: pagar juros ao credor.
O mercado de ações representa a chamada renda variável, quando não se sabe o retorno sobre o dinheiro colocado; trata-se do investimento de maior risco, pela incerteza do resultado.
Agora, para quem vai fazer um empréstimo, a equação é invertida: para que o consumidor possa contratar crédito com consciência e não cair no superendividamento, é preciso saber de antemão todas as taxas e custos embutidos na operação.
Assim, a educação financeira é crucial: aproveita melhor do crédito quem compreende o Custo Efetivo Total; sabe o que fará com o dinheiro e como será quitado o débito; pesquisa e compara as diversas ofertas disponíveis e avalia valor liberado, juros, prazos etc.
- Com o arrefecimento da pandemia, novas oportunidades surgiram. Por exemplo, a BX Blue cresceu oito vezes ao longo de 2020. Qual foi o papel dos investidores que injetaram quase 40 milhões para o crescimento da empresa?
Nós temos aqui na BX investidores maravilhosos que aportaram diferentes valores e compreendem o potencial de transformação social do negócio que estamos criando. Então, eles ajudam a gente a chegar lá mais rápido, de todas as formas.
Tem investidor que nos ajuda a ponderar sobre os caminhos a seguir; ou então, como a Y Combinator, que nos guia a avançar no desenvolvimento de produtos. Tem investidor que semanalmente manda artigos de tudo que pode impactar para o que estamos criando com a BX Blue. Tem aqueles que nos dão aquela força, ficam na torcida.
Então, todos eles estão intimamente ligados a esse crescimento e à história bonita que estamos escrevendo no mercado de crédito no país.
- Nesse mesmo sentido, empreendedores dos mais variados níveis de maturidade podem construir novos negócios ou aprimorar os serviços e produtos que oferecem por meio da injeção de mais capital. Qual é o papel que um empréstimo pode ter nesse processo? Quando o “venture capital” é uma opção mais vantajosa para o negócio?
O acesso a capital para crescer é essencial. Só que enquanto o empréstimo normalmente se resume a isso, o venture capital vai além. Mais do que capital, permite o aporte de conhecimento, de experiência, de guidance.
Uma curiosidade é que o venture capital surgiu na área do entretenimento: eram os “anjos” que patrocinavam peças da Broadway. E, claro, com todos os riscos que isso envolvia, afinal não se sabia se a peça ia “bombar” ou não.
Venture capital então é sinônimo de risco, e quanto maior o risco, maior a expectativa de retorno. Aporta-se em 100 empresas, por exemplo, sabendo que 90 podem quebrar, mas as que derem certo e se firmarem no mercado vão compensar o risco de todas.
Assim, para quem está criando um negócio altamente escalável, faz todo sentido. Com venture capital, sabe-se que vai passar um tempo investindo naquele negócio, sem o retorno, mas com um potencial de ganho de longo prazo muito maior.
- As diferenças regionais no Brasil, em diversos aspectos, são muito grandes. Como a BX Blue se propõe a oferecer capital a empresas e indivíduos que não estão inseridos no eixo mais dinâmico da economia nacional?
Atualmente, a BX Blue oferece produtos de crédito exclusivamente para pessoas físicas: empréstimo consignado, portabilidade, refinanciamento e antecipação do Saque-Aniversário. E por sermos uma plataforma digital é que facilitamos o acesso das pessoas às melhores ofertas de crédito, independentemente de onde a pessoa resida. Do celular, tablet ou computador é possível, com o comparador de consignado online, encontrar propostas de mais de dez bancos parceiros.
Ou seja, mesmo que na cidade do Sr. João, por exemplo, só tenha agência de um banco, ele não precisa ficar refém daquela instituição. Com a BX, ele pode simular e comparar ofertas de vários outros bancos e escolher aquele que melhor atende à sua necessidade.
Na BX, a gente acredita no poder da tecnologia para dar opções e escolhas aos consumidores, para ajudá-los a tomar melhores decisões financeiras.
- Em que medida o local de criação da BX Blue foi determinante para o êxito da operação inicial e como os administradores souberam lidar com os desafios que se apresentam para quem está fora do eixo Rio-São Paulo?
Diferentemente de tantas startups,
a BX Blue surgiu no Centro-Oeste brasileiro, diretamente na capital federal. Eu e meus outros dois sócios moramos em Brasília e convivemos com servidores públicos, que foi nossa primeira audiência quando pensamos na solução da BX.
A gente olhava para o ecossistema do crédito consignado, com tantos problemas e gargalos, e pensava: tem que ter um jeito diferente de se fazer isso! Então, nossa proximidade com as dores da audiência foi crucial, ela que guiou nossas ações.
Desde que fundamos a BX, nosso lema é: não podemos fazer nada que tenhamos vergonha de contar em casa, aos nossos familiares e amigos. Ao contrário: temos orgulho em criar soluções financeiras para pessoas que tanto contribuíram para o desenvolvimento do país, os aposentados do INSS e servidores públicos.
Nessa pegada, com o propósito de sempre resolver as dores dos clientes no que diz respeito a crédito, é que alcançamos diversos programas de aceleração, como o ahead Visa, e a Y Combinator, maior aceleradora do mundo, de onde saíram o Airbnb e o Dropbox, por exemplo.
A partir daí, fomos galgando cada vez mais reconhecimento, sempre impulsionado pelos nossos clientes, o que abriu as portas para nossa série A, em janeiro de 2021.
- Como outras startups podem seguir o caminho da BX Blue rumo a se tornar o próximo unicórnio brasileiro?
Acredito que, independentemente, do estágio da startup, o ponto sempre vai recair para o cliente: qual dor você resolve? Que problemas você elimina na vida das pessoas? Quais sonhos realiza, o que você facilita na vida delas? Este é o real valor que, enquanto empresa, entregamos para a sociedade. É aqui que reside o sucesso de longo prazo.
- Como participar de eventos e palestras pode enriquecer a vida dos empreendedores e ampliar a rede de contatos dos empreendedores brasileiros? Para vocês o que determina para que um evento seja ele online ou presencial? Seria um sucesso com o público e palestrantes?
Sem dúvida é importante conhecer o mercado – de sua atuação e outros, pois tudo pode agregar. E uma das formas é justamente participar de eventos diversos, para conhecer outras experiências, o que tem sido construído, quais desafios estão sendo enfrentados e como.
- Como o acesso a crédito pode ter um impacto macroeconômico positivo sem que isso prejudique os níveis de inflação e capacidade de poder de compra do cidadão comum?
O acesso ao crédito tem justamente este efeito de incentivar a circulação de bens e serviços e aumentar o poder de compra do cidadão comum. Com crédito, a pessoa volta a ter condições de consumo, o que ajuda a pressionar os preços para baixo, de modo geral.
E é sempre bom lembrar: crédito é dívida e, portanto, deve ser contratado com planejamento. O empréstimo consignado tem essa vantagem de ter o menor custo do mercado e prazos mais longos de pagamento, mas contratar com responsabilidade significa entender o impacto da dívida no orçamento e organizar as finanças levando isso em consideração.
- Mande um recado para empreendedores que estão na posição que a BX Blue estava antes de 2020 e precisa se preparar para o próximo nível de desenvolvimento de suas startups.
Penso que o recado mais importante que poderia dar é que enquanto empreendedor você tem que ter pessoas boas por perto.
O empreendedorismo é uma jornada superdifícil e você quer as melhores pessoas com você – e para isso é preciso cuidar delas. No final, “it’s all about people“.
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