O carioca Eduardo Poley, mais conhecido como Dum, começou sua carreira como grafiteiro aos 14 anos e hoje, aos 29 anos, mora no interior de São Paulo. Formado em Desenho Industrial com MBA em Markentig, ele cria suas artes em casa e utiliza as redes sociais para se comunicar com o seu público.
1. A partir de quando você passou a se considerar um artista profissional?
R: Essa palavra tem um peso muito grande, então até hoje eu acho estranho quando alguém me chama de artista, mas sim, desde o momento que a arte fez parte da minha vida eu me tornei um artista. A arte é algo inexplicável, não é só pegar um caderno e desenhar, você se torna artista a partir do momento que tudo que você vê e pensa tem a ver com cor e composição.
2. Como você entrou pro grafite e como suas experiências nessa cultura influenciaram sua formação como artista?
R: Conheci o graffiti na escola quando tinha 16 anos, um amigo meu me viu desenhando e me apresentou para outro amigo que já grafitava, desde então nunca mais saiu da minha vida, eu devo tudo ao graffiti inclusive a minha profissão que eu só escolhi pq tinha a ver com o graffiti. Pintar na rua é aprender no dia a dia como a vida é diferente pra cada pessoa, e conhecer gente nova, e saber chegar para pintar em uma comunidade ou até mesmo rir quando alguém te ofende por não saber do que se trata. Isso influencia não só na minha arte hoje em dia como na minha vida como ser humano.
3. Como a experiência no mercado publicitário enriqueceram artisticamente suas criações e te deram uma visão melhor sobre o mercado atual?
R: Isso é algo muito estranho pra mim, eu sempre fiz propaganda com as pessoas ou as empresas delas, mas hoje em dia eu faço pra mim, tirar uma foto boa, mostrar os bastidores, fazer um vídeo, falar com meu publico alvo, isso tudo eu aprendi na publicidade.
4. É possível viver só de arte no Brasil? Como você conseguiu isso?
R: É possível, mas é difícil, eu ainda estou nesse processo. Existe uma diferença de trabalhar com o que você gosta e não ganhar muito dinheiro ou então demorar pra ganhar e trabalhar como o que você sabe que vai ter dar uma boa condição financeira, porem, não é o que você ama. Hoje em dia eu busco a felicidade, trabalhar com o que eu gosto e com o que alimenta a minha alma, mas ao mesmo tempo tenho que pensar nas responsabilidades em casa, com a família, com o futuro. Então eu estou bem nessa transição de vida.
5. A arte deve ter função social ou ela deve ser somente pra admiração do seu apreciador? Em que pontos sensíveis você toca com a sua arte?
R: A arte no Brasil deveria ter mais incentivo desde a infância para todos, somos um país que não valorizamos a arte. O graffiti é umas das artes que conseguem chegar em crianças humildes mais rápido, é muito mais fácil ela ver um artista pintando na sua comunidade do que ter condições de entrar em uma galeria, infelizmente. Como graffiteiro já fiz parte de um projeto social que levava arte para as crianças da comunidade do Jacarezinho – Zona Norte RJ.
6. Você já pensou em apresentar sua arte em museus e exposições ou prefere que ela estava na rua e na casa das pessoas? Qual é a importância de cada um desses lugares pra você?
R: Sim, tenho esse objetivo hoje em dia, futuramente levarei as minhas telas para algumas galerias, no momento estou em processo de transição do graffiti para os quadros e aproveitando o momento. Mas jamais deixarei as ruas de lado, costumo dizer que o graffiti te liberta, quando você faz um desenho na rua se ficar bom todo mundo gosta, se não ficar bom eu gosto, naquele momento não existe aprovação do cliente, é libertador, sem contar a adrenalina que pra mim é a pior droga que existe.
7. Porque o brasileiro não tem o costume de pagar por esse tipo de experiências e o que deve ser mudado para que nossos compatriotas acostumem-se a apreciar a arte e também a apoiar os artistas através da aquisição das peças criadas pelos seus artistas favoritos?
R: Acho que isso é cultural, o Brasil é um país muito atrativo em outros aspectos, mas parece difícil sair de casa para ir em uma galeria. A arte chega mas de um modo mais acomodado, muitos vêm filmes mas nunca saíram para ir em um circo, até leem um livro em casa mas não saem para ir ao teatro, e na hora de pagar só pagam pra o que estão vendo e não ligam para o sentimento que foi passado naquela tela, enfim, não são todos, mas a maioria. O alto custo atrapalha também, é mais barato assinar a Netflix do que pagar 40,00 em um cinema.
8. Como as redes sociais ajudam a sua carreira a se profissionalizar e a ganhar um reconhecimento maior do público e quais são suas rotinas de trabalho?
R: Hoje em dia a rede social é o meio mais rápido de entrar na casa de uma pessoa com o baixo custo, na tv você só vê as grandes marcas, no jornal e na rádio as grandes e médias, nas redes sociais qualquer empresa e pessoa. A minha rotina de marketing usando as mídias são: pintar em uma semana e gerar muito conteúdo, eu mesmo filmo com meu celular em um tripé, na semana seguinte eu posto nos stories depois de ver o que é bom e excluir o ruim, as vezes gero conteúdo pra 2 semanas e vou postando aos poucos, isso gera engajamento e curiosidade. Depois de uns 20 dias que postei nos stories eu posto no feed, isso faz com que as pessoas relembrem o seu conteúdo, assim não cai em esquecimento, e pra entrar mais ainda na cabeça das pessoas eu posto 3 fotos uma de cada ângulo em dias diferentes, todas elas eu boto um stories mostrando como tirei aquela foto. Isso tudo eu testei e vi que era a melhor forma, tá aí uma boa dica pra galera.
9. Como está sendo pra você fazer parte do #CPBRartistas e o que você espera das próximas semanas?
R: Fiquei muito feliz com o convite, e também com o espaço dado para tantos artistas, a maioria desconhecido, normalmente são sempre os mesmos convidados e vocês fizeram diferente. Daqui pra frente espero viver cada dia mais do que me faz feliz.
10. Mande um recado de positividade ao nosso público e explique como a arte pode melhorar a vida das pessoas que estão passando por momentos difíceis?
R: Costumo dizer que você tem sempre que saber de tudo, de segunda guerra mundial até quem tá no paredão no BBB, o próprio Big Brother você pode tirar coisas positivas, reparar nos graffitis que lá estão, na arquitetura, no design de interior. Veja arte até onde você imagina que que não tenha, ande em um bairro antigo reparando nas sancas dos prédios, ou até mesmo nos desenhos dos bueiros. Isso tudo faz sua vida mais leve. Consumir arte não é apenas comprar uma peça caríssima ou ir em um show de um artista famoso, compre arte daquele garoto na praia que pinta em azulejo e cobra 10,00 ou então do cara na esquina que escreve poesia, minha frase pra encerrar é VALORIZE O ARTISTA INDEPENDENTE.