Recentemente um caso muito polêmico viralizou nas redes sociais e na boca de muitas pessoas. Trata-se do caso em que a garotinha de 10 anos, vítima de violência sexual, engravidou daquele que a abusou.
Para muitas pessoas, este é um caso chocante. Porém, para outras, está longe de ser novidade, afinal de contas ela já vinha sendo molestada, violentada e nada fez. Muitos acreditam que ela estava aceitando aquela situação. A verdade é que NÃO. Não se trata apenas de dizer um simples ‘para com isso’, afinal de contas o Estatuto da Criança e do Adolescente prevê no artigo 4º, caput, que é dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público, assegurar com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, educação, esporte, lazer, profissionalização, cultura, dignidade, respeito, liberdade e convivência comunitária e familiar.
Significa dizer que a culpada não é e não será uma garota de 10 anos que, naquela circunstância, se via impedida de dizer algo, se é que ela tinha condições psicológicas para tal.
No Brasil, três crianças e adolescentes são abusados a cada hora. Dentre as crianças, 51% tem 1 a 5 anos. Em 48% dos casos, esses abusos ocorrem em casa. Negros e mulheres são maioria entre as vítimas. Tanto entre adolescentes quanto crianças, as vítimas negras lideram (55,5% e 45,5%, respectivamente).
Crianças e adolescentes do sexo feminino também são maioria entre as vítimas de violência sexual. Representam 74,2% dentre as crianças e um número ainda maior dentre as adolescentes: 92,4%. (Dados do Ministério da Saúde)
A questão pode ser vista como o fato de que o abusador tinha problemas psicológicos, não sabia o que estava fazendo. A resposta, no entanto, não se trata apenas de atribuir ao caso uma fatalidade, mas devemos assumir nossos papéis enquanto guardiões das crianças. Não é certo se vangloriar de uma criança que foi vítima de um abuso e se encontra grávida, pois aquela vida foi fruto de algo terrível. Precisamos olhar com empatia e justiça para o caso e não simplesmente encher nossas redes sociais com comentários comuns, do tipo ‘que coisa horrível’; ‘que absurdo!’, pois comentários como estes existem muito, mas ações, de fato são mínimas.
A sociedade está corrompida em pensamentos arcaicos e desumanos. Existem pessoas que diziam que a garota estava gostando, pois vinha tendo abusos antes mesmo de completar 10 anos. Independentemente de estar ou não gostando, não justifica defender um abusador, pois ao fazerem isso, estão virando às costas para a responsabilidade afetiva e para o respeito ao próximo, se é que essas pessoas têm isso.
O Poder Público deve intervir, sim, nestes casos. Várias ações devem ser tomadas, mas a mais importante começa dentro de nós. Mudar o olhar e enxergar aquela criança como uma menina sonhadora, que teve sua infância corrompida, que carregará consigo aquele trauma pelo resto da vida. Será que as pessoas pensaram nisso? E se fosse sua filha? Se fosse sua sobrinha? Obviamente seria uma barbárie, mas por ser uma pessoa estranha ao nosso ciclo social, tendemos a ver o caso como um mero fato típico que aconteceu. E pronto.
Por favor, nossa sociedade já está repleta de inversão de valores e como isso é algo subjetivo eu não pretendo manipular o pensamento de ninguém, porém tenho um pedido a fazer: desculpas. Precisamos nos desculpar com as crianças, porque são inocentes (sim, por ela ter 10 anos não a torna uma pessoa capaz o bastante de estabelecer juízo de valor), são puras de coração e são seres humanos dignas de respeito. Precisamos nos desculpar por uma atitude egoísta que às vezes temos, em achar que nosso teto não é de vidro.
Precisamos de amor. Precisamos de empatia.