Começou no dia 4 de novembro um dos maiores eventos de tecnologia e inovação do mundo. O Web Summit 2019 contará com a participação de cerca e 70 mil pessoas e já esta dando o que falar.
Quem abriu o ciclo de discussões nesta edição foi Edward Snowden, ex-administrador de sistemas da CIA e responsável pela denúncia a cerca dos detalhes dos programas de vigilância global geridos pela Agência de Segurança Nacional (NSA) norte-americana. O refugiado americano palestrou via videoconferência de seu esconderijo na Rússia para a platéia em Lisboa, Portugal.
Em uma conferência que fala sobre tecnologia, a abertura esquentou discussões e aumentou as expectativas do que está por vir nas questões que envolve ética e privacidade nas coletas de dados.
Swoden ressaltou a importância de humanizar a tecnologia e relembrar que não estamos tratando apenas de dados, mas de pessoas. Vale lembrar que uma maiores companhias do mundo, o Google, tem como um dos seus principais modelos de negócio a venda de anúncios e para isso utiliza informações do usuário obtidas a partir dos seus serviços gratuitos para apresentar-lhe anúncios que o interessarão. Para Edward, o problema não são as leis de regulamentação, e sim a coleta de dados.
Discussões sobre privacidade e proteção de dados também vem acontecendo no Brasil. Em 2018, o então presidente Michel Temer sancionou a LGDP, Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais, uma lei inspirada nos moldes europeus que tem o objetivo de trazer transparência a cerca da finalidade da coleta de dados para cada serviço. A coleta de dados deve ser clara e relacionada com o propósito da empresa. As informações não podem ser repassadas e deve haver uma justificativa para seu engavetamento e uso futuro. Segundo as regras da leis, quem não cumprir com o proposto terá que pagar multa de 2% de seu faturamento contanto que o valor não ultrapasse R$50 milhões de reais.
No entanto, de acordo com centro de pesquisa GARTNER, a maior parte das empresas brasileiras ainda não estão preparadas para se adequar a legislação e muito possivelmente não cumprirão as leis até 2022, data limite para regularização das plataformas. Apesar dessas projeções, segundo Bart Willemsen, vice presidente de pesquisa do Gartner, as empresas vem se transformando e repensando questões de privacidade e proteção de dados como um valor da empresa e não apenas como um prejuízo financeiro por conta da multa aplicada caso a lei seja violada. Fato similar ao aconteceu e vem acontecendo com questões ambientais e direitos dos animais.
O Web Summit promete fomentar ainda mais essa discussão e só podemos esperar por mais palestras questionando o futuro da tecnologia. Por aqui, ficaremos de olho!
- Sobre a autora: Mariane Neiva é Doutoranda em Ciência da Computação pela USP e tem interesses em Inteligência Artificial, Inovação e Visão Computacional.