Não é segredo para ninguém que, até poucos anos atrás, as mulheres não tinham direitos, carreiras ou grandes possibilidades na vida. Na ciência, menos ainda. Quando estudamos química, física e matemática, é difícil ver algum nome feminino através dos séculos de invenções que mudaram o mundo e tornaram possível o modo como vivemos hoje. Mas, embora muitos não saibam, desde sempre as mulheres participam e protagonizam descobertas por si mesmas, revolucionando suas épocas. Uma delas foi Ada Lovelace, conhecida como a primeira programadora da história.
Esse nome pode ser uma surpresa: grande parte da população não faz ideia de que foi uma mulher a pioneira na criação de algoritmos computacionais, e muitos nunca sequer ouviram falar sobre, na escola, na faculdade, no trabalho. Assim, é importante sempre estar compartilhando essas informações, de modo a que todos tenham acesso a uma história que, acontecendo há décadas, ainda reflete na nossa realidade.
Mas de fato, quem foi Ada Lovelace? Filha de Lord Byron, poeta inglês famoso (sim, talvez esse seja muito mais conhecido) , e de Anne Isabelle Milbanke, matemática, Augusta Ada King nasceu em Londres, Inglaterra, em 10 de dezembro de 1815. Byron, após o nascimento da filha, não teve qualquer contato com a criança (algumas fontes dizem que abandonou a família, outras que os casos incessantes fizeram com que Anne quisesse a separação) e toda a sua educação foi então dada pela mãe, que não desejava que Ada desenvolvesse a loucura de Lord Byron e a incentivou desde cedo a se interessar por lógica e matemática – o que aconteceu, e com louvor.
Com professores particulares e vivendo na alta sociedade acompanhada da aristocracia inglesa, Ada teve como tutor Augustus De Morgan, primeiro professor de matemática da Universidade de Londres, e conheceu Mary Somerville, tradutora de trabalhos científicos em Cambridge, que a levou posteriormente a conhecer Charles Babbage, professor de matemática e inventor de uma máquina de cálculo, a Difference Engine (Máquina Diferencial), que operava com elementos finitos.
Ada manifestou interesse em ser sua aluna e trabalhar com o inventor, alcançando o desejado após um trabalho impressionante: entre 1842 e 1843, traduziu um artigo do italiano Luigi Federico Menabrea acerca de uma palestra de Babbage sobre sua máquina, adicionando notas que tornaram o documento duplamente maior e que continham suas ideias e visões sobre a capacidade das máquinas de irem muito além do que o mero cálculo e processamento de números (uma visão, de certa forma, poética) e, o mais importante, um algoritmo criado para ser processado por máquinas, conhecido hoje como o primeiro programa de computador.
Infelizmente, a Condessa de Lovelace (título dado a ela após o matrimônio) não viveu o bastante para ver seu trabalho reconhecido ou no que ele se transformou; Ada morreu aos 36 anos de um câncer no útero, deixando um legado inacreditável para trás e a pergunta do que ela poderia ter feito se tivesse vivido por mais tempo.
O seu trabalho vive até os dias atuais, mesmo após a linguagem de programação Ada e a republicação de suas notas quase um século após sua morte, e sem ele provavelmente não teríamos computadores e tecnologias como as que conhecemos hoje, o que só mostra sua importância. É tanta, que todo segunda terça-feira de outubro é comemorado o Ada Lovelace Day, dia para celebrar as mulheres da ciência e incentivar outras a seguir seus caminhos, hoje com muito mais facilidade do que dois séculos atrás.